Costumo fugir de temas polêmicos como a São Paulo Companhia de Dança. Mas hoje, após assistir o documentário do diretor Evaldo Mocarzel no festival de Cinema de Paulínia, foi inevitável que eu tentasse dividir aqui um pouco das tantas idéias que transbordaram de mim.
Me sinto dividida ao falar nesta companhia. Por um lado fui muito favorável e entusiasta durante sua criação. Isto, porque o balé clássico é uma das principais portas de entrada para a dança no Brasil, mas contraditoriamente o campo de trabalho com foco neste estilo é quase nulo por aqui. É irritante como nosso país serve na sua maioria para formar talentos desta área e exportá-los. Visto isto, a criação de um grupo sério com foco estético nas releituras, remontagens e novas criações do balé é fundamental para um avanço no mercado de dança profissional.
Por outro lado as políticas de fomento à cultura foram completamente imparciais na distribuição de recursos relacionados à esta companhia de dança. Outros grupos estáveis e profissionais que lutavam para sobreviver há anos se sentiram completamente negligenciados graças às verbas exorbitantes destinadas à SPCD.
Moral da história: o bafafá no mundo da Dança rolou solto. O estranhamento foi similar ao que ocorreu na época em que o (ex) Maestro da OSESP John Neschling mexeu os palzinhos para mudar a orquestra de um nível mediano para uma com qualidade internacional. Algumas das principais modificações foram a dedicação exclusiva, o aumento dos salários e a competitividade acirrada entre os músicos. Ponto.
Sinto muito... mas concordo que dinheiro é sinônimo de qualidade. E não digo isto levianamente, mas porque acho que se você, como bailarino tem uma estabilidade financeira mínima, você pode se dedicar única e exclusivamente para seu aprimoramento profissional e assim, contribuir para elevar o nível de qualidade artística da sua companhia. Só que isto não significa que estes outros grupos, como por exemplo o Balé da Cidade de São Paulo, não mereçam também mais investimentos.
Enfim, tentei traçar um panorama (bem superficial) da situação que envolve a SPCD para poder melhor contextualizar o meu olhar de observadora quando assisti o documentário acima citado. Com sentimentos conflitantes sentei esperando assistir o usual: algo meio panfletário, imagens bonitas valorizando a técnica clássica, momentos com a obsessão dos cineastas em filmar só as pontas, etc.
Primeiramente fui surpreendida com a fala do diretor estremamente consciente sobre corpo e movimento. Não lembro das exatas palavras, mas ele finalizou sua fala enfatizando que tanto cinema quanto dança são artes que prescindem da palavra. Com esta idéia o diretor me conquistou...
Tanto eu (bailarina) como meu noivo (cineasta) assistimos o documentário estupefatos. Amamos.
O documentário conseguiu extirpar das minhas lembranças qualquer preconceito em relação à esta companhia.
Sob o mote de documentar a rotina de trabalho dos profissionais envolvidos na montagem da criação coreográfica Polígonos (de Alessio Silvetrin) o diretor criou uma obra espetacular de culto à vida dos bailarinos.
Nunca me senti tão bem representada. Apesar de não fazer parte de uma companhia de dança, minha vida tem sido esta arte. A rotina de um artista é muitas vezes incompreendida pela maior parte da sociedade. Mas este trabalho mostra fielmente a rotina árdua de disciplina, treinamento e até mesmo de sofrimento que envolve a vida de um bailarino. Também mostra a beleza estética de movimentos sutis, a conquista e superação de uma dificuldade, o cansaço físico, o sentimento que transborda no silêncio, além da criatividade e individualidade nas expressões de cada movimento.
A fotografia é maravilhosa, um material que definitivamente não posso explicar com palavras.
A montagem do documentário é impressionante. O montador Marcelo Moraes faz milagre ao conseguir dar uma continuidade quase dançada às imagens captadas.
A trilha sonora costura todo o documentário com muita cautela e precisão contribuindo em muito para facilitar a sensibilização do olhar dos espectadores.
Enfim... fantástico. Um documentário fundamental para qualquer bailarino ou amante do movimento. O documentário pode ser um pouco cansativo para quem não tem um olhar tão especializado na área, mas mesmo assim ele deve ser assistido por aqueles que procuram entender este universo da dança não traduzível em palavras.
Me sinto dividida ao falar nesta companhia. Por um lado fui muito favorável e entusiasta durante sua criação. Isto, porque o balé clássico é uma das principais portas de entrada para a dança no Brasil, mas contraditoriamente o campo de trabalho com foco neste estilo é quase nulo por aqui. É irritante como nosso país serve na sua maioria para formar talentos desta área e exportá-los. Visto isto, a criação de um grupo sério com foco estético nas releituras, remontagens e novas criações do balé é fundamental para um avanço no mercado de dança profissional.
Por outro lado as políticas de fomento à cultura foram completamente imparciais na distribuição de recursos relacionados à esta companhia de dança. Outros grupos estáveis e profissionais que lutavam para sobreviver há anos se sentiram completamente negligenciados graças às verbas exorbitantes destinadas à SPCD.
Moral da história: o bafafá no mundo da Dança rolou solto. O estranhamento foi similar ao que ocorreu na época em que o (ex) Maestro da OSESP John Neschling mexeu os palzinhos para mudar a orquestra de um nível mediano para uma com qualidade internacional. Algumas das principais modificações foram a dedicação exclusiva, o aumento dos salários e a competitividade acirrada entre os músicos. Ponto.
Sinto muito... mas concordo que dinheiro é sinônimo de qualidade. E não digo isto levianamente, mas porque acho que se você, como bailarino tem uma estabilidade financeira mínima, você pode se dedicar única e exclusivamente para seu aprimoramento profissional e assim, contribuir para elevar o nível de qualidade artística da sua companhia. Só que isto não significa que estes outros grupos, como por exemplo o Balé da Cidade de São Paulo, não mereçam também mais investimentos.
Enfim, tentei traçar um panorama (bem superficial) da situação que envolve a SPCD para poder melhor contextualizar o meu olhar de observadora quando assisti o documentário acima citado. Com sentimentos conflitantes sentei esperando assistir o usual: algo meio panfletário, imagens bonitas valorizando a técnica clássica, momentos com a obsessão dos cineastas em filmar só as pontas, etc.
Primeiramente fui surpreendida com a fala do diretor estremamente consciente sobre corpo e movimento. Não lembro das exatas palavras, mas ele finalizou sua fala enfatizando que tanto cinema quanto dança são artes que prescindem da palavra. Com esta idéia o diretor me conquistou...
Tanto eu (bailarina) como meu noivo (cineasta) assistimos o documentário estupefatos. Amamos.
O documentário conseguiu extirpar das minhas lembranças qualquer preconceito em relação à esta companhia.
Sob o mote de documentar a rotina de trabalho dos profissionais envolvidos na montagem da criação coreográfica Polígonos (de Alessio Silvetrin) o diretor criou uma obra espetacular de culto à vida dos bailarinos.
Nunca me senti tão bem representada. Apesar de não fazer parte de uma companhia de dança, minha vida tem sido esta arte. A rotina de um artista é muitas vezes incompreendida pela maior parte da sociedade. Mas este trabalho mostra fielmente a rotina árdua de disciplina, treinamento e até mesmo de sofrimento que envolve a vida de um bailarino. Também mostra a beleza estética de movimentos sutis, a conquista e superação de uma dificuldade, o cansaço físico, o sentimento que transborda no silêncio, além da criatividade e individualidade nas expressões de cada movimento.
A fotografia é maravilhosa, um material que definitivamente não posso explicar com palavras.
A montagem do documentário é impressionante. O montador Marcelo Moraes faz milagre ao conseguir dar uma continuidade quase dançada às imagens captadas.
A trilha sonora costura todo o documentário com muita cautela e precisão contribuindo em muito para facilitar a sensibilização do olhar dos espectadores.
Enfim... fantástico. Um documentário fundamental para qualquer bailarino ou amante do movimento. O documentário pode ser um pouco cansativo para quem não tem um olhar tão especializado na área, mas mesmo assim ele deve ser assistido por aqueles que procuram entender este universo da dança não traduzível em palavras.
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