Thursday, April 28, 2011

Sempre Gabriela.

Por que o meu irmão ainda não inventou o teletransporte?
Desde pequeno ele dizia isso. E até agora nada.

Hoje é o aniversário da minha irmã.
E eu to aqui, sem poder dar um abraço nela.

Poxa, é muito difícil esta história de ficar longe de todos que a gente mais ama.
Todo dia dói.
Mas aniversários doem mais.

Olhando para trás eu vejo que eu passei todos os aniversários do último ano longe daqueles que mais amo.

Primeiro minha mãe, depois meu irmão e meu noivo em Outubro.
Então em Dezembro eu passei o meu e o do meu pai longe. (Se bem que não conta tanto, por que eu peguei o avião dois dias depois e matei a saudade).

Mas agora veio o da Gabi, e me faz refletir sobre toda esta distância, o quanto cada segundo com aqueles que amamos é precioso, o quanto eu amo a minha irmã e quanto sou grata por ela fazer parte da minha vida.

Hoje em via vejo tantos irmãos que brigam tanto, tanta gente que nasceu e cresceu junto, mas que depois se separa, distancia, e vive como se não fossem irmãos, ou como se sequer se importassem um com os outros.

E eu sou abençoada de ter a melhor irmã do mundo, e o melhor irmão também.

Sempre fui muito ciumenta. Imagina? Primeira filha, neta e sobrinha, toda poderosa, seis anos de supremacia na família. Até que veio meu irmão. Foi o fim para mim naquela época, criança mimada perdendo o trono.

Que bom que a gente cresce.

Mas demorou. E quando a Gabi nasceu eu fiquei pior ainda. Morria de raiva da Gabi. Não entendia aquela bebê chorona, que já era cheia de decisão desde cedo.

E quando a bebê Gabi foi se tornando uma criança então? Brigava muito com ela. Parei de pegar tanto no pé do meu irmão e era com a Gabi que eu não me dava. Tadinho, irmão do meio esmagado entre a primeira filha mandona e a caçula dona das atenções.

Mas os anos passam. E os impulsos infantis vão se esvaindo e dando lugar ao caráter verdadeiro de cada personalidade.

E então, só depois que eu resolvi virar uma pessoa menos ciumenta e aprendi a amar é que eu conheci meus irmãos.

E no Lucas, eu conheci uma inspiração, calma, inteligência, paciência, silêncio e riso.

E na minha irmã, a Gabiroba eu descobri esta companheira. Cheia de poesia, sapateadora incansável, apaixonada, cheia de emoção e com mais lágrimas do que deveria.

E na Gabi mora o sorriso mais bonito que existe no mundo. Tenho por ela um amor de irmã, mas muitas vezes meio de mãe, quase como se ela fosse meu bebê. E é assim que eu as vezes a chamo.

Bom tem tantas coisas. Posso ficar o dia inteiro escrevendo, me emocionando, cavando nos meus miolos que não sabem achar palavras direito, para explicar todos os motivos que tornam minha irmã especial e o quanto a amo.

Mas estou aqui, sem teletransporte, atrasada para a aula.

E só queria mesmo dar um abraço na minha irmã e desejar um feliz aniversário.

16 anos de Gabi na minha vida. Amém.

E o meu maior desejo é estar Sempre ao lado de Gabriela.

Te amo Gabi.

Tuesday, April 26, 2011

Roxos.

Tá. Não deu.
Eu não acabei o trabalho da miss MW mas não aguentei e vou ter que fazer um relato por aqui.
To cansada, destruída, com roxos, pé, cotovelo e ombro sangrando.
Mas to feliz.

Na coreografia da Cecilia e da Suzanne, estou dançando provavelmente o trabalho com o elenco mais forte que eu já dancei na minha vida.
Elas conseguiram alguns bailarinos que não são deste mundo, e apesar de ser muita pressão dançar com os melhores bailarinos da Tisch (literalmente, eles já tem companhias brigando por eles!) eu agora estou mais tranquila e fazendo o meu papel.

O único problema é que a coreografia é bem violenta. Por isso que eu sempre acabo sangrando
em algum lugar novo.

Resumo da ópera: somos todos seres de um mundo pós apocalíptico, fadados a maldade. Um dominando e subjugando o outro. Mas eu sou mais boazinha. (Mais ou menos... nem tanto). Aí eu tenho um cinto de escalada que é ligado ao cinto de um outro menino. A gente dança junto, todo mundo entra no meio da história e bate bastante em mim. Eu me jogo de costas de cabeça no chão e rezo para a menina lembrar de segurar minha cabeça antes dela bater no chão.

Então meu partner me arrasta pelo chão puxando pela corda. Eu fico possessa. "Bato"em todo mundo. Vou para um item do cenário, escalo e fujo.

Fim da coreografia.

Mas os melhores são as caras e bocas.

O figurino é doidão e a maquiagem bem assustadora. Mas eu me divirto até. Sou super impulsiva, e sou péssima de fazer algo muito pré-estabelecido, e como a coreografia foi feita envolta do que eu conseguia fazer com o cinto de escalada, tudo tem um caráter de improviso e bem natural.

Se a minha mãe tivesse na platéia ela ia enfartar. (É que dá a ligeira impressão que eu vou morrer durante a coreografia).
Meu pai... não sei bem se ele ia gostar de algumas partes... Ele provavelmente ia ter a certeza que a filha dele veio para NY e pirou de vez.
Meu noivo ia amar.


Saturday, April 23, 2011

Witch Dance

Ai Mary Wigman, você e sua obsessão pelo creepiness.
Além de ter feito o maior número de coreografias relacionadas a morte, você está agora levando ao meu fim.
Tenho que escrever sobre suas coreografias, de um ponto de vista neutro e comparar com os seus escritos sobre cada uma destas coreografias.
E depois tem que sair a minha conclusão dizendo sobre a sua estética, o caráter temático da sua dança e etc.
Dramática, expressiva e com uma dose de insanidade.
Um tanto quando self-centered se eu posso ser ousada e te dizer a verdade.


Só volto a escrever aqui quando este trabalho sair.

Mary Wigman: you are going down today. Oh yeah.

Wednesday, April 20, 2011

Counting down...

Faltam:

6 dias para eu entregar meu trabalho da Mary Wigman - que não está nem perto de estar pronto.

8 dias para a apresentação de CC&D - que terminamos a coreografia ontem. Amém.

7 dias para eu apresentar meu solo - que está terminado.

12 dias para a audição da Aszure Barton

15 dias para entregar meu trabalho final de música. (Óbvio que eu nem comecei)

22 dias para minha prova final de música e para o fim do meu primeiro ano de mestrado.
(Meu Deus o tempo voa)

32 dias para o avião pousar, eu pisar na minha terra e abraçar meus amados. ( E chorar, é claro.)

76/79 dias para eu mudar a aliança de mão

120 dias para eu voltar para cá.

...

Ai tempo

Você é tão esquisito.
Não sei se eu gosto muito de você.
Você vive me torrando as paciências.
Gostaria de acelerar algumas coisas,
que outras nunca chegassem
E que algumas coisas durassem para sempre.

meio assim, partido.

Tem alguma beleza indescritível
ver
nas árvores da cidade
as flores brancas nasceram
e
agora
brotar folhas de um verde claro.

Eu sinto dia-a-dia
o tempo
vagarosamente esquentando.
As estações são algo determinante por aqui.
Eu que adoro clamar que eu não fico doente nunca
tenho sofrido de uma dor de garganta
e tosse
faz uns 4 dias.

Não sei porque
eu gosto de escrever assim
partido.

Deve ser porque eu sou meio
fragmentada.

Sunday, April 17, 2011

Inspiração - Coreografia


Sempre me perguntam quem são meus coreógrafos favoritos, quem são as minhas inspirações e para quem eu gostaria de dançar. Para falar a verdade ainda estou formando minha opinião.

As minhas referências são reflexo de tudo que já fiz. Então não tenho como negar o peso que o balé clássico tem em mim. Além da minha paixão pelos detalhes inteligentes das coreografias de Bob Fosse.

Amo a insanidade coerente dos trabalhos da Pina Baush. E não poderia deixar de ser influenciada por algumas das grandes companhias de dança do Brasil. Nosso país tem bailarinos com uma musicalidade que nenhum outro lugar tem, e coreógrafos muito bons.




Mas feminista que sou, prefiro trabalho de coreógrafas mulheres. Sempre me irritou o fato que na dança muitas vezes só tem coreógrafos homens. No Brasil temos a Déborah Colker como a única coreógrafa com mais projeção internacional. Apesar dela ser meio mal vista em alguma rodas de dança contemporânea, por ser completamente ligada ao visual, eu adoro os seus trabalhos.




Das coisas que tenho assistido aqui por NY tenho achado coisas interessantes, mas nada que me fez parar de respirar. Exceto um coreógrafo, Doug Varone. Um estilo completamente diferente do que eu normalmente gosto, mas é uma companhia menor, cheia de ex-alunos da Tisch e algo viável para mim. Se bem que estou fazendo aula de técnica com uma professora que dançou na companhia do Doug Varone e na da Trisha Brown por anos, e estou ralando até para entender fisicamente como fazer certas coisas. (Enfim... papo de bailarino)




Além disso vou fazer audição no próximo semestre e estou louca para ser selecionada para dançar no trabalho da coreógrafa Aszure Barton. Mas eu e a torcida do Flamego estamos matando para ser selecionados para dançar com ela, então não sei se eu tenho chances.
Se vocês assistirem abaixo o vídeo tem uma seleção de diferentes trabalhos dela. Inclusive o solo do Baryshnikov que eu assisti no Brasil, há uns 3, 4 anos atrás.






Mas recentemente descobri esta coreógrafa da Hungria chamada Éva Duda, e estou obcecada com o trabalho dela.




Adoro quando alguém consegue abordar algo psicológico, cheio de carga emocional, e manter o apelo estético e físico da dança.


Acho que não adianta eu escrever nada, como já diria o velho ditado: uma imagem vale mil palavras. Todas as imagens de dança deste post são da companhia dela, e foram deliberadamente roubadas do site da companhia:

http://evaduda.net/en/

Lunático by Éva Duda - Este é o trabalho menos violento dela.




Nada se cria tudo se transforma.
Não existe um trabalho que é realmente novo, ou um movimento que nunca foi usado.
Mas tudo é o como.
E as pessoas que dançam tornam algo único.


Tenho fixação por elementos cênicos (props) e cenário. Achei fantástico que a própria Éva Duda cria os cenários de seus trabalhos.







No meu trabalho de conclusão de curso da Unicamp eu explorei um bambu como elemento cênico e de apoio à minha criação. Eu sempre quis, num futuro, tentar desenvolver aquela idéia para uma coreografia de grupo. Mas agora vai ficar difícil, depois de ter visto as fotos e vídeos de Overdose.




WARNING: Este próximo vídeo é o trabalho mais violento, nu e cru que eu já vi. FAUNO.
Óbvio que eu amei. Mas é o lado animal dos seres humanos escancarado.
Chocante. E nos remete a mitologia dos faunos, que não deixa de ser uma criação da mente humana.





Achei este vídeo sem querer no Youtube, e então fui procurar me informar mais sobre o trabalho desta coreógrafa. O que me levou a escrever tudo isto aqui...
(Isto porque, para variar, eu deveria estar escrevendo minhas 10 páginas em inglês sobre a Mary Wigman, mas ao invés disso eu fico pesquisando coreógrafos...)






E no grito. Termino isto aqui.

Monday, April 11, 2011

Sonhando acordada



De manhã cedo já está acordada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
...
Ela só quer
Só pensa em casar
Ela só quer
Só pensa em casar

Friday, April 8, 2011

Semana from Hell - 6 posts em 1 - (alerta de texto gigante)

LOST IN TRANSLATION

Esta última semana foi a mais difícil que eu já tive aqui em NY.

Eu tenho buscado me manter forte, e mesmo quando eu choramingo aqui no blog geralmente minha postura nas aulas e no dia-a-dia é muito feliz.

Mas nesta semana tive este grande problema vindo à tona, que me deixou muito nervosa e desequilibrada.

Nada como dois bancos resolverem sumir com o dinheirinho que você precisa para sobreviver e um ficar jogando a culpa no outro por um bom tempo. E enquanto isso todas as contas estavam atrasadas. E durante uma emergência eu não tenho ninguém para correr. Meu telefone não faz ligação para o Brasil. O skype só funciona se a outra pessoa estiver online, o que nunca acontece quando eu mais preciso. E eu recebia as mensagens do Brasil no meu celular e eu não conseguia retornar.

A falta de comunicação quase me deixou maluca. Eu fui ao extremo do nervosismo, chorando na frente de qualquer pessoa. Todas as pessoas do prédio da Dança já devem ter me visto chorando e falando Português na frente de um computador.

E o sentimento de culpa então? Já me sinto responsável por dar o máximo de mim naturalmente. Mas sob a situação que estou eu me cobro 24 hs por dia. Pois eu tenho que valer o investimento insano que estão fazendo em mim. Ou morrer tentando.

...

TORTURA

E essa semana foi simplesmente tão difícil. Enquanto eu tentava resolver este problema que estava me consumindo, eu tenho um schedule normal para seguir. Eu não falto em aulas.
Nenhuma.

E então na segunda e na quarta foi o dia da apresentação da música para a aula de teatro. Não estava nem dando bola. Gosto de cantar. Não tenho uma grande voz, mas quando estou a vontade amo cantar, e geralmente as aulas de teatro me deixam a vontade.

Mas este não foi o caso.

Cantar ponta de areia, que é uma música que sei desde a minha infância e que me lembra tanto o Brasil não foi nada fácil. Só vivendo fora do país e passando por isso aqui pra entender o que eu tive que fazer:

Fui a primeira pessoa a ir cantar a música na quarta, já estando carregada dos problemas de fora da aula. Na segunda já havia ocorrido a primeira sessão de terrorismo, com pessoas indo cantar uma a uma, algumas chorando. E eu chorando junto com cada uma que cantava.

Imaginem uma sala de dança enorme, com todos seus colegas e a professora sentados encostados nua parede, e um banquinho no meio da sala.

Me levantei e fui sozinha encarar o resto da sala.

Respirei fundo. Uma, duas, três vezes. Abri a boca e cantei, minha voz saiu grave e nervosa.

Quando terminei a professora pediu para eu sentar no banquinho e aí o terrorismo começou.

Ela me perguntou o significado da música. Eu falei a tradução.

Eu escrevi aqui que esta música era a que tinha a menor capacidade de me fazer chorar. Não fala "eu", não fala "você". Só conta uma história triste.

Mas a professora me apertou até eu dizer na frente da sala o que a música significava para mim:

Representa a saudade. A ponte com o meu país e com a minha família que eu tive que quebrar. O medo de ser esquecida. De estar incomunicável. De ninguém me ouvir. E de estar completamente abandonada.

E projetar a voz na sua língua, no meio de um monte de gente que não entende a mínima do que você está falando, tem um poder emocional assustador. É como um grito de desespero no vazio, escuro e sem ar.

E neste estado, aos soluços e lágrimas, a professora me pediu para falar o texto, como se eu estivesse dizendo isto para minha família.

E por último ela pediu para eu levantar e cantar mais uma vez. E foi aí que eu despedacei. Cantar depois de ter ficado completamente nua, na maior zona de desconforto e vergonha que já passei na minha vida?

Tentei recomeçar a cantar. E eu olhava em desespero para todos a minha frente, querendo que a tortura acabasse logo.

Minha professora com uma voz amiga me dizia para eu tomar quanto tempo fosse.

Eu nunca desisto. Mas no meio da música tive um acesso de choro, a voz não saia da garganta, eu sentia meu corpo se dobrar ao meio e eu achei que eu ia cair ou desmaiar de exaustão ali mesmo.

E falei: No. I can't do this. Entre lágrimas e em total desespero.

E então a professora me disse que eu tenho que controlar as emoções e direcioná-las. E me perguntou: Quem dirige o carro? Você ou o carro?

Do meio do choro, brotou um sorriso. E falei para ela que eu sempre dizia estas frases para as minhas alunas, e é uma das frases que eu mais gosto.

Respirei mais uma vez, e cantei até o fim.

Depois fui conversar com a professora, e ela falou que agora qualquer coisa vai ser bem mais fácil na minha vida. Quando a gente supera uma situação de pressão extrema como essa e ganha, a segunda vez fica mais fácil.

Não foi a toa que numa das primeiras semanas de aula aqui em NY, lá atrás em Setembro, uma professora soltou a pérola de que a o nosso curso é na verdade bem pior do que a vida lá fora. Se a gente sobrevive aqui, a gente aguenta qualquer coisa.

....

COTTAGE CHEESE

E a minha alimentação indo para as cucuias? Eu preciso urgente emagrecer, mas quem disse que eu paro de comer coisas estranhas neste país. E agora que eu aprendi a comer o macarroni and cheese, biscoitos milano, pizza do st marks a 1 dólar, cafés no lugar da janta, etc. eu to frita. Ainda não americanizei completamente. O duro vai ser quando eu sucumbir ao pote de hagen Daaz à 3 dólares e comer na colher.

Pelo menos fui assistir dois concertos no Carnegie Hall, esta semana. Fiquei maravilhada com aquele teatro.

Mas para completar minha maré de desastres da semana eu estava correndo para ir a um destes concertos quando abri a mini geladeira do meu quarto, e o meu pote de Cottage Cheese se suicidou. Ele pulou direto da porta da geladeira encarando o chão duro e frio. Não tive tempo para reagir.

Não deu pra salvar quase nada. Poxa, a situação já está tão difícil, a última coisa que eu precisava era perder a comida da semana. Mas enfim, como eu estava feliz indo para o Carnegie Hall não deu para ficar muito deprimida.

....

CARNES NO MERCADO

Sexta-feira.
Mais uma audição.
Desta vez a coreógrafa foi a Kate Weare.
De todos que pesquisei esta foi a que menos me atraiu, porque o trabalho me soou hermético demais.
Mas mesmo assim queria fazer uma boa audição. Só que depois da semana traste que tive seria uma ilusão fazer um trabalho excelente na audição.

Mas enfim, ela chegou e sentou com a pranchetinha com os nossos nomes do lado do professor chefe de departamento, e o assistente dela começou a passar uma sequência. A sequência era super interessante, cheia de saltos malucos, braços jogados, etc. E o assistente dela ficou fascinado que nós não tínhamos números, e sim que todo mundo era chamado pelos nomes.

E então naquele mesmo esquema, dividindo a gente de 5 em 5 pessoas, fomos apresentando.

Em seguida a própria coreógrafa passou uma outra frase curta com movimentos gestuais e então nós fomos divididos em duplas e tínhamos que criar algo com o material que ela tinha passado. Foi tranquilo e bacana de se ver. E por último ela pediu que juntássemos a primeira sequência e emendássemos com a frase que havíamos criado.

Minha cabeça zunia durante toda audição, mas consegui me manter focada e fazendo o máximo que pude.

Estava tudo bem até aí.

Então a Kate resolveu falar algumas palavras... Disse que audição é sempre complicado, que ela ficou feliz por termos divididos nossas visões artísticas com ela. Mas para ninguém ficar chateado, porque a seleção se dá com base no que mais se adequa ao estilo dela apesar de todos sermos talentosos. (Blá blá blá) E ela falou em tom de conselho para nós sempre termos esta visão em audições.

Ok.

E então ela começou a chamar alguns nomes e pediu para estas pessoas fazerem uma fila na frente dela. E então ela chamou mais alguns nomes e pediu para eles se alinharem a frente da fila anterior. Aí ela anunciou feliz da vida: "primeira fila - vocês são meu elenco. Segunda fila - eu não tenho certeza, gostaria que vocês dançassem de novo."

Todo mundo se olhou com cara de: que situação desconfortável.

Um discurso novo e bonito, pautado pelas mesmas velhas ações.
É balé, é contemporâneo, é circo de Soleil, é companhia da esquina.
O mesmo tipo de tratamento:

Coloque as pessoas numa fila e as selecione como se elas fossem uma variedade de carnes a serem escolhidas no mercado. E deixe as carnes estragadas de qualquer jeito ao lado.

Sinceramente, não ligo de saber que eu não vou fazer parte do elenco dela. Mas o que me irritou muito foi o tratamento dúbio. Falar uma coisa bonita e ter uma ação completamente sem tato. Se eu que já sou mais velha e não queria dançar para ela, já me senti mal. Imagina todas as menininhas de 19, 20 anos que colocavam suas esperanças nesta coreógrafa.

Bom. Mas para eu que achava que minha vida na NYU fosse ser assim sempre, esta foi a primeira vez que teve uma audição deste jeito.

E é ótimo. Porque é quando nós temos as piores experiências é que nós criamos paralelos com o que queremos ou não nos tornar.

Eu vou ter minha companhia. Cada vez mais tenho certeza disso. E então eu sei que tipo de pessoa eu quero ser ao fazer uma audição, ao lidar com outras vidas. Porque eu estou falando de dança, mas na verdade verdadeira eu acabo mesmo é falando de vida e de relação humana. No fundo o que importa, e que faz a diferença é a maneira como as pessoas interagem. E se elas se respeitam, e buscam um mundo melhor, elas devem agir com uma conduta correta que levará de alguma forma à felicidade.

(Vixe... fui longe agora, não?)


.....

RIO DE LÁGRIMAS

E eu passei a minha semana me debulhando em lágrimas, em desespero.
Realmente nunca tinha ficado neste estado. Só hoje umas cinco pessoas perguntaram se eu estava doente, passando bem, etc. Isso porque o drama pior foi quarta e quinta.

E agora... como a minha dor parece insignificante frente a outras coisas tão piores.

Quanta tristeza no rio.
Não deve haver nada mais triste do que ver partir alguém que você esperava ver a vida inteira se desenrolando.
Crianças.
Mas eu tenho que acreditar que este mundo vai melhorar.
Não é possível.
Tudo tem uma explicação.

.....

LIVROS DE CABECEIRA

Geralmente tento me manter bem imparcial no meu blog, não declarando publicamente algumas coisas pessoais.
Mas tenho dois ou três livros de cabeceira, que me ajudam a refletir e a colocar a cabeça no lugar quando estou cheia de dúvidas.

E hoje foi isso que um deles me disse:

" o fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem; (...) mas essa recompensa é preciso merecê-la, e é por isso que a vida esta cheia de tribulações."

E o outro me deu um pito:

"A revolta constante gera desequilíbrios na mente, no corpo e na alma.
Tem calma sempre.
O que agora não se resolva, está a caminho da solução."

Uma hora depois da minha leitura e estando eu bem mais calma, recebi ligações dos bancos que fizeram da minha vida um caos nos últimos 10 dias, me dizendo que todos os problemas foram resolvidos.

Wednesday, April 6, 2011

The Beatles - Blackbird


Na minha aula de teatro já fui a Russian Sonia.
Dei conta de fazer um monólogo contemporâneo.
Também tive que me virar para decorar as falas de uma cena que ensaiei e apresentei com uma das minhas colegas do MFA.
E agora a professora está abordando texto em música.
Eu escolhi cantar Ponta de areia, porque tem valor emocional para mim, mas eu (provavelmente) não vou morrer de chorar cantando esta música.
Mas se eu tiver que cantar uma música em inglês eu quero cantar Blackbird.
Me faz lembrar de todas as bebes.
Mas principalmente da minha irmã.

Monday, April 4, 2011

Ponto final e a esperança equilibrista.

Sky Color

Há flores amarelas e flores roxas se abrindo por toda a cidade.
Já vejo grama, arbustos e verde.

Mas a primavera está tardando em mim.
E a chuva cai dos olhos.

E passei o dia cantando em Português, o que eu não fazia há tempos.
E isso só faz chover e doer mais.

Eis a canção do dia de hoje:

Ponta de areia ponto final
Da Bahia a Minas estrada natural
Que ligava Minas ao porto ao mar
Caminho de ferro mandaram arrancar
Velho maquinista com seu boné
Lembra o povo alegre que vinha cortejar
Maria fumaça não canta mais
Para moças flores janelas e quintais
Na praça vazia um grito ai
Casas esquecidas viúvas nos portais

Acho que é porque fala de um lugar abandonado. Esquecido.
De dor e de saudade.

Ou então é a Elis a me dizer:

Chora a nossa pátria mãe gentil.
Mas sei que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente.
(H) á esperança
Dança
Na corda bamba de sombrinha

Mas sabe que o show de todo artista... tem que continuar.

Saturday, April 2, 2011

Filmes, neve e casablanca.

Acho que agora que está esquentando NY vai ficar cheia de filmagens de novo. Lembro que lá atrás, quando cheguei aqui e ainda estava quente, em Agosto e Setembro do ano passado, eu sempre cruzava com algumas estruturas exageradas de filmagens.

E como comentei outro dia, estão com uma estrutura enorme de traillers ao longo da rua 55, meu caminho diário entre casa e metrô.

E NY nunca deixa de ser surreal.

Os traillers brancos tem várias portinhas com nomes de atores, e tem estrelas vermelhas na porta. Isso para não comentar que um dos traillers é um caminhão preto enorme, com partes externas de vidro e dá para ver pela frente uma enorme tela de tv.

Também tem barraquinhas com chefs fazendo comida no meio da rua. Só que a comida é só para a crew do filme. Devem estar filmando perto da Times Square e estão alocados numa rua estratégica...
Estrategicamente entravando o meu caminho!

Mas enfim. Pelo menos é algo novo.

E ontem, quando eu estava voltando da NYU, no quarteirão do prédio da dança, a caminho do metrô, eu passo por uma rua lateral e vejo que tem mais uma filmagem acontecendo.
Eu havia passado por ali mais cedo, e já tinha visto que estava também cheio de gente e equipamentos, mas nem dei muita atenção.

Só que na hora que eu atravesso a rua, onde uma mulher mal educada estava gritando para os transeuntes "Keep on moving!", eu olho para o chão e vejo neve...

Mas não tinha nevado ontem.

?

Então olho para o lado e vejo esta máquina gigante fazendo nevar, um monte de câmeras, e os atores passando a cena.

Este país tem muita estrutura.

E é mesmo surreal.

.....

E só para atualizar vocês do meu cotidiano.
Eu sei que é sábado a noite. Todo as pessoas normais tem fim de semanas.
Mas eu não.
Tenho que escrever os trabalhos finais de música e de grad. seminar, além de escrever uma pequena crítica, diário de músicas, organizar coreografia, etc.

Mas como eu sou brasileira e deixo tudo sempre para a última hora. E as vezes inverto completamente minhas prioridades, eu passei na New York Public Library e ao invés de procurar documentos e vídeos antigos da Mary Wigman, eu peguei 3 DVDs para assistir.

(Como se eu não tivesse nada mais importante para fazer da vida.)

Vou te contar. Sou PhD na arte da procrastinação.

Aluguei You've got mail, que quero assistir desde que eu cheguei aqui. Filme água com açúcar, fofo, um dos filmes favoritos do meu pai, e filmado todo aqui por perto da onde eu moro.

Peguei o show de Truman, porque eu vi dando sopa e estou afim de ficar deprimida.

E casablanca, para eu pular da janela de vez de tanta saudades do meu amor que ficou no Brasil.

Tenham todos um ótimo final de sábado.

E caso eu não veja vocês de novo: Bom dia, Boa tarde e Boa noite.



Friday, April 1, 2011

Sean Curran

Estou começando a achar que eu escrevo no formato novela, não?
Ler estes meus posts deve parecer uma grande novela mexicana.
Ontem deixei minha vida em aberto, com os três pontinhos, falando sobre a audição do Sean Curran que eu faria hoje. E agora eu entro aqui para relatar o que aconteceu.
É a própria novela acabando na cena de suspense para deixar o telespectador com gosto de quero mais.

...

Então.
Foi a primeira vez que eu me diverti e fiz tranquilamente uma audição.
O Sean Curran é realmente engraçado e deixou o ambiente informal e tranquilo.

Primeiro ele passou uma sequência de balé na diagonal, com piruetas e valsas, bem simples mas toda cheia de "estilo". Ele afirmou que o balé era a mãe da dança então ele preferia começar assim.

Em seguida veio a parte da audição mesmo.
Ele passou uma sequência bem grande, que para mim dava a sensação de ser um balé "derretido", ou seja, usava a técnica, mas transformava tudo em ângulos e posições diferentes.
E para quem queria fazia a audição de ponta teve uma variação desta sequência. Quem não queria usar ponta, podia fazer de sapatilha, descalço, etc. Eu fiz com a boa e velha meia preta.

Eu amei a sequência, que por um milagre divino, não foi algo no pique de Nova Yorque, tinha saltos giros, etc, mas dava tempo de pensar e curtir o que eu estava dançando.

E também foi bacana que ele fez todo mundo repetir duas vezes em grupos pequenos. Na primeira vez tinha que ser da forma correta, mas na segunda vez ele deixou mais aberto a interpretações e robatos (foi o termo que ele deu - é um termo da música que significa desacelerar livremente as frases e recuperar o tempo depois).

Depois disso ele chamou um a um e fez algumas perguntas.

Esta foi a melhor parte...

Eu me apresentei, falei que eu era brasileira, tinha 24 anos, fiz a minha graduação em dança no Brasil, tive como base técnica o balé, mas há algum tempo migrei para o contemporâneo, que eu quero coreografar, blá blá blá...

Aí ele me pergunta: e em que companhia você quer dançar quando terminar o curso?

(Ai a minha mente marota responde: Bom amigo, eu já desisti desta opção porque nunca me achei muito material de companhia, mas se você tiver a fim de me contratar eu topo.)

Mas a minha razão chata deu uma resposta diplomática: que eu estou ainda conhecendo coreógrafos e pesquisando. E estou por enquanto focada no meu curso e aberta a conhecer todas as possibilidades.

Ele me deu um sorriso caloroso e falou: You're beautiful dancer.

É muito engraçado como no Brasil sempre fui tratada como um lixo.
E aqui as pessoas realmente valorizam o que eu tenho a oferecer.
No Brasil tinha perdido completamente a perspectiva de seguir uma carreira em performance, mas aqui tem espaço para tantas coisas diferentes e me sinto tão a vontade, que até dá para voltar a sonhar.

Enfim.

E ele terminou colocando uma música e nos chamando um a um para improvisar: no centro da roda e no meio daquele bando de bailarinos (entre 30 e 40 pessoas e todos na sua maioria da graduação, no auge dos seus 19 aninhos).

E ele deu como inspiração para o nosso improviso esta fala: "pense que você é a letre "S"
e você quer virar do avesso".

Não preciso nem comentar aqui o quanto eu amei.

Ssssssss

Espiral e torto. Bem do meu jeitinho.


Recentemente assisti a Companhia de Dança do Doug Varone, cheia de ex-formandos da Tisch, e adorei o trabalho deles. E agora com a inspiração que o Sean Curran me deu, vou criar coragem para fazer mais umas audições por aí.

Um sonho se eu conseguisse entrar numa cia por aqui por uns tempos, enquanto eu continuo dando andamento nos meus projetos coreográficos e de videodança.

Ai ai.

Estou sonhadora hoje.

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