Wednesday, June 18, 2014

A vida dói.

Trabalhando muito duro esqueci da felicidade que é fazer o que eu amo. Parei de escrever sobre tudo e sobre nada. 4 anos de NY e a cidade bateu bastante em mim. Estou exausta, frustrada, e violentada por essa vida. Acabou a lua de mel.

Meu hiato em escrever é prova que parei de olhar ao meu redor, parei de querer ser criativa, parei de ter prazer em pensar e ser artista. Mergulhei na prática dura do dia a dia. Nas mil tarefas de ser coreógrafa aqui em NY. Em ter 5 empregos, 4 não pagos, e 1 money maker degradante.

Me sinto humilhada por estar comendo o pão que o diabo amassou. Uma coisa é vir atrás do sonho, cheia de orgulho e esperança. Outra é enfrentar as dificuldades diárias, profissionais e financeiras.

Mas não estou mal. Estou no melhor ponto que já estive como coreógrafa. Estou cada vez mais me aprofundando na minha pesquisa criativa e tenho consolidado minha companhia com um trabalho regular com minhas bailarinas e colaboradoras. Só é muito difícil. Fazer dança contemporânea numa cidade onde tem tanto artista de qualidade gera muita pressão. Mas mais do que isso, para coreografar e manter trabalhos artísticos aqui dependo de estar constantemente fazendo contatos, criando relacionamento com doadores e público americano.  E fica difícil, quando minha vida inteira foi no Brasil. E só agora as pessoas estão ouvindo meu nome. Em suma, é um trabalho de criar reconhecimento e criar contatos. E vamos falar a verdade? Não sou lá uma pessoa extrovertida e social. Não sou mais anti-social, como era há alguns anos atrás. USA me fez aprender a me apresentar para gente que não conheço, começar conversas na minha área e demais demandas dessa sociedade esquisita. Mas mesmo assim, sempre tem uma mini-barreira da língua. Nunca vai ser a mesma coisa que  conversar o bom e velho Português.

Tenho agora mais do que nunca buscado achar o meu eu de anos atrás. Meu eu estudante era muito mais positivo do que meu eu da vida real. Essa busca me faz olhar para dentro e ver o que está faltando. A disciplina de dançar quando não se tem mais uma escola. De me manter fisicamente ativa da maneira que amo, sendo que é tão difícil encontrar aulas que me satisfaçam. Dói olhar para dentro e ver minhas falhas. Dói escrever sobre elas. Mas escrever sempre foi meu desabafo e válvula de escape, então acredito que quando crio coragem de fazer o que estou fazendo agora, estou andando para frente.

A vida dói porque a gente fica preocupada com o que falta, com o sucesso que a gente ainda não alcançou, com tudo que a gente quer fazer e ainda não conseguiu. A vida dói porque colocamos muito peso no futuro, e esquecemos do agora. E o agora já passou. Mas sentir dor é algo bom. Me faz humana, me faz prestar atenção e acordar. Acordar para o agora, acordar para a hora da mudança. E acordar para a felicidade e sorte que já tenho: minha maior felicidade são as pessoas na minha vida. As pessoas que estão pertinho e as que estão longe. Meus amigos aqui. Minha melhor amiga que vai casar. Minha família no Brasil. Meu marido para quem volto correndo para casa todos os dias. Me sinto muito abençoada no âmbito familiar e pessoal. Quantas pessoas podem dizer que estão mais da metade da sua vida com o mesmo companheiro, e que o relacionamento só melhora com os anos?

Enfim, a vida dói. Mas tem que doer mesmo... para a gente crescer.
E no final das contas tudo vai passar: corpo vai morrer,  carreiras acabam e recomeçam, dinheiro vem e vai embora, coisas materiais apodrecem. Mas as experiências com as pessoas que convivemos é eterna. E está aí a vida verdadeira.



Foto tirada pelo Nicolas comigo voando e Allie Tsubota numa dança instalação que fizemos em Abril.




We can work it out.

Escrevi isso há muito tempo e nunca postei.
Então aqui vai:


(ENG) 
 Today I had the craziest day of my life. I really don't know what to think and how to feel.
I was up early for a great dance class, and I had lunch with the hubby. But in the afternoon, a person humiliated me and my profession - dance - in such a way that I'm till now in shock. Afterwards I put myself together and went to take the class of my talented friend Suzanne Beahrs. That was the best part of my day!
But no, the day wasn't complete yet. On my way home I passed by a man laying on the floor, and only then I noticed the ambulance and the fire department. And that the man was dead.
Now I'm just pensive, thinking in dance, life, and how people are still so ignorant and selfish.. One's life is too insignificant, but at the same time is the most precious thing.
I'm wishing for a better world.

"Life is very short, and there's no time
For fussing and fighting, my friend."


(PORT) Hoje eu tive o dia mais estranho e insano da minha vida. Não sei o que pensar. Tentando fazer sentido das coisas.
Comecei o dia bem, tendo uma excelente aula e almoçando com o maridão. Fui dar minha aula a tarde, e no meu ambiente de trabalho, fui humilhada e agredida de tal forma que estou em completo choque. Impressionada com a ignorância alheia. Que pessoas em posição de poder, são justamente aquelas que abusam daquilo que tem, menosprezando outros indivíduos. Hoje eu conheci a pessoa mais grosseira e ignorante da minha vida. Após lidar com a situação como pude, continuei meu caminho e fui fazer a aula de uma grande amiga e excelente profissional. Sai leve e feliz da aula.
Mas no meu caminho para o metrô, eu passei por um senhor extendido no chão. E só quando eu olhei para seu rosto, percebi que ele estava morto. Vi então o alvoroço das ambulancias e bombeiros ao redor. Mas a imagem ficou forte e gravada em mim.
Estou pensando muito. Refletindo sobre a vida e sobre a transitoriedade das coisas. Sobre o que é realmente importante. Sobre como a vida é ao mesmo tempo insignificante e preciosa.
Sonhando com um mundo melhor.

"Life is very short, and there's no time
For fussing and fighting, my friend."
Wow...

Meus fantasminhas abandonaram o blog geral.

Mas então... hoje foi a opening night de mais uma performance da Second Avenue Dance Company.

Os EUA valorizam a cultura e a dança bem mais do que no Brasil. Mas isso não quer dizer que as coisas aqui sejam fáceis. NY tem muito oportunidade, mas ao mesmo tempo tem muita gente boa competindo e a cidade é cara e difícil de se viver. Ao contrário de como acontece no Brasil, onde muito da verba de dança vem de (pouco) investimento público ( via lei Rouanet, etc). Nos EUA quem banca companhias são Fundações (de gente rica), ou seja é dinheiro privado, somado a poucos subsídios públicos. E com a crise por aqui, as fundações estão tirando o apoio a muitas companhias antigas e estabelecidas. Pelo que tenho ouvido por aqui, todo mundo diz que a Europa é um sonho, que os próprios governos bancam até salário para bailarinos (mesmo se eles estiverem desvinculados a companhias). Mas não tenho certeza se é exatamente assim...

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