Friday, July 27, 2012

Geladeira, sangue e croissant.

O diazinho:

Brigo contra o sono para acordar
levanto
enrolo
trabalho
Busco a disciplina desta nova fase da minha vida

Arrumo a casa
estante para lá
livros
Olho fotos com carinho
Almoço

Nicolas prepara o almoço
batata recheada

eu estou tensa
Me sinto pronto para explodir por algum motivo

Descubro que é o dia da Avó
Penso nas minhas duas avós no céu
Choro

Vejo receitas de vó
Penso na mesa posta da minha avó Anacyr
Nos doces da Vovó Nilza
E nas receitas que eu nunca aprendi

Choro

Nicolas resolve limpar a geladeira.
Do nada ele corta o dedo do pé.
O corte sangra muito e eu não dou bola.
Bailarina tá acostumada com desastres no pé.
Curativo.

Ele volta para a geladeira
Ele fura e estraga a geladeira
Balde de água fria e nervosismo
Quando finalmente estamos colocando a vida em ordem e ajeitando a casa, isso.

Mas a culpa não é de ninguém.
Shit happens.
O pé não pára de sangrar.
fazemos mais um curativo.
E agora eu fico preocupada.

Pesquisamos rapidamente preços de mini geladeiras como a nossa.
Num impulso, paramos tudo e vamos atrás de comprar uma geladeira.
O Nicolas vai mancando.

Chegamos na target e só tem 1 geladeira muito cara para nosso bolso.
Voltamos desapontados.

Nesse ponto, o Nicolas checa o pé e descobre que o curativo não segurou nada.
o pé dele continua sangrando.
voltamos para casa
Fazemos mais um curativo
e ele sai

Fico em casa sozinha
Skype com mamis

Dor de cabeça infernal
Muito choro

e mistura saudades, com preocupação, com medo do futuro
com decepções comigo mesma.
E a cabeça gira e tudo parece sem esperança.

Mamis alegra o meu coração.

Ligo para o meu landlord.
Ele toca a campainha.
Mostro a geladeira.
Ele pede 1 minuto.
Ele sai.
Ele volta carregando outra geladeira.
Ele pega a estragada e a gente coloca na rua.
Ele não me cobra nada.

E eu chorei tanto.

Limpo a nova (velha) geladeira.
coloco as comidas de volta,
sem me preocupar se elas estragaram ou não.

Minha cabeça dói.
Fome.
E a maldita da preguiça.
E o cansaço.

Como qualquer coisa.

Perco meu tempo assistindo tv.
Mas a dor de cabeça diminui um pouco.

Falo com a Alana.
Choro mais um pouco.

Eita saudades que dói viu.

Chuva.
Trovão tão alto, que parece que ele mirou a minha casa.
E pensou: vamos assustar a Carol, pq hj ela está vulnerável.
Mas a chuva passa.

Crio vergonha na cara e às 11:30 da noite vou comprar algo para mastigar
Algo que não esteve no drama da geladeira descongelando.

Um gesto bom.
O vendedor que me conhece, me dá um croissant e arredonda minha conta para menos.

De volta em casa.

Ar condicionado
Ventilador
banho gelado (não estou doente, é que está quente demais até para mim)
Croissant do amigo caridoso

Skype com a Titia
Mais umas lágrimas de saudades.

Computador
Blog
Agora.
Boa Noite

E aguardo um amanhã melhor.
Sempre.




Wednesday, July 11, 2012

Sushi, Bridget Jones e Jalapenõ

Sabe aquele dia que você acha que é o chef de um restaurante 5 estrelas?
Pois é.

Meu dia começou sem muitas aspirações de grandezas.
Fui para o triskilions, esfreguei o chão, limpei os espelhos, minhas bailarinas chegaram, tivemos um ensaio excelente e voltei para casa.

Vim com o coração na mão. A dona da Darcy me mandou uma mensagem dizendo que ia buscá-la hoje. Eu e o Nicolas não queríamos nem atender o telefone. Estávamos a ponto de sequestrar a cachorra. Mas no final das contas, marquei um horário e lá se foi a bichinha feliz da vida para a casa de verdade dela. Nos deixando mais uma vez vazios e sozinhos. Foi bom enquanto durou, delícia fazer dog-sitting de uma cachorra fofa.

E logo em seguida meu marido foi trabalhar.

Então fiquei eu, sozinha, em casa, mais uma vez.

Já dizia minha mãe: cabeça vazia é oficina do Diabo.

E olha que eu não estou exatamente com a cabeça vazia...
Milhões de coisas por fazer e eu estou obviamente protelando até o último instante.
Eu poderia estar editando e finalizando o Subway project, deveria estar organizando o Press Kit dos meus trabalhos para a apresentação deste Domingo no festival The Current Sessions.
Mas não, eu fiquei procurando descobrir como fazer sushi através de vídeos no Youtube.
E então achei esta pérola:





Óbvio que depois de assistir este vídeo eu virei uma mestre samurai do sushi (na minha mente fértil).

Mas como eu não estava com paciência (e dinheiro) para ir comprar arroz e utensílios de cozinha japonesa, eu decidi ir no mercadinho libanês aqui na esquina de casa, comprar legumes e coisas que pudessem se tornar uma receita brilhante.

Sabe a Bridget Jones, quando ela decide que vai fazer 5 pratos, e acaba fazendo sopa de barbante azul? (Se você não viu este filme, e não tem conhecimento de cultura inútil, vai ler um blog cult chato.) Meu dia na cozinha foi ligeiramente similar...

Comprei coisas para fazer uma salada cool e fresquinha (porque aqui em NY tá um calor aborígene): abacate, cogumelos, pepino japonês, mini tomate, tahini (libanes), e algo que eu jurava que era um mini pimentão verde.

Vamos direto ao ponto: cortei o abacate (que tava meio duro), o tomate, o cogumelo e o pepino. Então fui cortar o suposto pimentão. E - pausa para o suspense - eu linda, dei aquela dentada servida no pimentão. Fui à lua e voltei. Sessenta copos de água depois eu soltei todos os palavrões possíveis. Agora resta saber o que diabos eu vou fazer com todo o Jalapenõ (pimenta mexicana) que eu comprei.

Bom, aí eu deixei de lado o Jalapenõ, coloquei todas as outras coisas cortadinhas numa cumbuca e fui inventar de fazer um molho. À esta altura eu já estava meio frustrada com as minhas habilidades, então eu resolvi ir fundo na experimentação gastronômica...

Consegui fazer um molho gororoba com tahini, shoyo, azeite, e mel. Ficou interessante.

Mas no processo eu derrubei shoyo pela pia e pelo chão da casa, pepino voou para um lado, talheres caiam. Sei lá o que aconteceu. Hoje eu estava um desastre. E para coroar, após me entupir desta salada à mode carol, eu fui atacar um Muffin de Chocolate que comprei, e na hora que eu estava passando com o prato , eu juro que o Muffin se abriu ao meio e caiu bem em cima do lap top, se despedaçando todo e derrubando migalhas entre as teclas.

Agora visualize a minha alegria interna.
Pois é.

Como estou escrevendo agora aqui, juntem um mais um, limpei tudo e ainda peguei um cotonete para limpar entre as teclas...

Mas vou te falar, hoje foi um dia peculiar.

Thursday, July 5, 2012

Update - retorno à vida.

Faz três meses que não escrevo aqui.
Eu me formei.
Minhas duas amadas avós faleceram num espaço de duas semanas. Bem enquanto eu coreografava minha última apresentação na NYU. E recebia meu diploma no estádio do Yankees.
Um buraco em mim, exatamente no meu momento de maior realização profissional.
Minha mãe esteve aqui e foi a melhor coisa do mundo.
A saudade da minha família bateu mais forte do que nunca.
Estou há 10 meses direto sem colocar o pé no Brasil.
Tudo bagunçou na minha cabeça.
Meu coração vai ser sempre brasileiro, mas minha estrutura profissional é americana.
Ficar ou voltar?
Estou aguardando a regularização das minhas papeladas, mas a princípio, ficar por mais um ano...

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Meu estágio no Brazilian Endowment for the Arts está ótimo. As vezes me sinto no filme "O Diabo veste Prada", tenho que correr atrás de tarefas impossíveis que não tem nada a ver com o que eu faço. Mas ao mesmo tempo, estou tendo a oportunidade de conhecer um grupo de profissionais, artistas e de contatos impressionante. Ligar e conversar com um ministro foi um dos pontos altos até agora.

Consegui um work exchange na Triskilion Arts. Glamour zero: limpo um teatro/sala de dança e em troca ganho duas horas de espaço free para ensaiar com a minha companhia. Mas está valendo... vocês tem alguma idéia do quanto custa o aluguel de uma sala por aqui? Sai por no mínimo U$15 a hora... E como eu não tenho salário que pague sequer meu aluguel, eu não teria como viabilizar ensaio para minha companhia se eu não arrumasse um deal deste tipo.

Passei no Festival Internacional de Videodança da Amazônia e no Dança em Foco com o meu trabalho Ruína. Com a coreografia Piece #4 entrei num festival super bacana chamado The Current Sessions (no dia 15 de Julho) e num festival no teatro Dixon Place, em Agosto.

Consegui criar meu website em inglês.... e fiz tudo sozinha!

www.carolmendes.org

Também passei em uma audição e entrei numa companhia nova por aqui: Silva Dance Company. Sim, de um coreógrafo brasileiro! A companhia tem uma linha mais comercial, que mistura contemporâneo e capoeira. É extremamente físico e tá valendo muito a pena para mim neste momento.

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Muitas coisas aconteceram. Pensei em retornar ao blog várias vezes, mas nunca consegui.

Acho que escrever no blog está ligado à minha produtividade interna. Por mais que pareça que eu tenha feito um monte de coisa desde que me formei, nestes últimos meses tenho me sentido numa eterna ressaca da NYU. Estive absolutamente improdutiva.

Espero que meu retorno ao blog esteja marcando minha volta à produtividade.

Meus sonhos são tantos. Tenho tanta coisa pela frente, mas a vida é tão difícil.
Principalmente por ter que trabalhar numa área completamente negligenciada por todos, lutando a cada dia para sobreviver e viver de dança.

Que o cara lá de cima me ajude, apesar de eu estar meio desmerecedora de ajuda.

A disciplina de trabalhar sozinha (escrevendo projetos em Português e em Inglês, fazendo audições, me mantendo em forma) é muito dura.

Mas vamos que vamos.

E obrigada à Paulinha, que me mandou um e-mail lindo que me inspirou a voltar a escrever.

E bora trabalhar....

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