Tuesday, May 31, 2011

Impressões - limbo

Eu prometi para mim mesma que eu ia voltar de NY, que eu ia ficar cheia de coisas para fazer aqui no Brasil, mas eu não ia deixar meu blog morrer.

Parece até que meu blog é movido a NY.

Eu estava tão ansiosa e feliz de voltar para o Brasil, de ver todos que amo.

E eu confesso que desde que eu cheguei no meu país eu estou sofrendo um estranhamento que eu não imaginava.

Tomei um susto quando cheguei aqui. Tudo é esquisito.

Tem muito espaço. Quando eu olho eu vejo o horizonte, minha visão vai tão longe. Eu estava mais acostumada a olhar na vertical.

É tudo muito silencioso. Não há músicos. Não tem gente. Não tem comércio.

Parece tudo um grande vazio demográfico.

Tem muito verde. E nosso verde é natural, bruto.

Eu estava acostumada com tudo feito. Parques arrumados, jardins feitos. Aqui tem tanta abundância, toda desordenada.

Eu sinto que eu estou parada e o tempo correndo. Mas não dá vontade de correr porque meu corpo ficou devagar aqui.

Cheguei sentindo calor, quando estava todo mundo sentindo frio. Aí fiquei doente. E agora estou congelando neste frio que é calor onde eu antes estava.

É uma decepção gigante ver nas notícias de jornais o que se passa por Campinas. Eu votei no Dr. Hélio e considerei ele o único prefeito que já fez alguma coisa por esta cidade. Mas a que custo?

Quanta corrupção. Está todo mundo cansado de saber que político por tabela é corrupto, mas sempre que a sujeirada vem a tona a gente se surpreende. Eu me pergunto qual é a solução para este país?

(E é nestas horas que transbordam meus pensamentos radicais xiitas...

Vamos montar uma conferência de aumento de salário de todos os políticos corruptos em Brasília. A gente espera eles se reunirem por lá e aí a gente joga uma bomba e explode tudo.
E começamos do zero, com a política sendo trabalho voluntário? )

Tem que haver uma solução inteligente e humanamente boa.

Porque o que acontece é que este país é dirigido por ladrões em todos os níveis. E os pobres seres humanos normais vivem esmagados no meio de tanta burrocracia e corrupção.

Enfim, meu desabafo em relação ao escândalo daqui de Campinas.

E fora isto também fui tentar me encontrar e ouvir notícias dos locais de dança em que estudei e fiquei muito chateada em ver a situação por aqui. Não vou citar fatos por razões óbvias.

Parece que eu fui morar em um Oásis do meu campo profissional e voltei para cá onde tudo é impossível, difícil.

Onde quem dança não tem valorização nenhuma.

.....

Mas por favor não se deprimam com minhas impressões.

Quando eu voltei para NY em janeiro eu também passei por uns meses de estranhamento e adaptação.

Acho que isto é o normal para alguém que está vivendo no Limbo.

Não moro aqui nem lá, estou sempre partida ao meio.

Sunday, May 22, 2011

É hoje.

Há três horas atrás abri meus olhos e pensei:

É hoje.
É hoje que eu volto para casa.

E no instante que eu acordei eu comecei a cantar o refrão dos meus tempos de Mofra:

"É nessa que eu vou,
Que eu vou embalar,
Porque meu irmão
Falta pouco pra gente
Pra gente chegar".

E lembrei que eu sonhei com meu noivo. E no sonho ele já era meu marido, morava aqui e ele estava conversando animadamente com alguns amigos meus americanos.

E eu terminei minhas malas, só tem as mudas de roupas do dia e as roupas de cama para fora.
Mas a vontade de ir é tanta que eu vou empacotar tudo agora. Mesmo só saindo daqui do convento às 5 hs da tarde.

...

O Relógio - Vinícius de Morais

Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia

Saturday, May 21, 2011

Dance Parade - drops



Foto daqui.

Ontem fui fazer as últimas coisas que faltavam antes deu ir embora. Levei uma gaveta cheia de papelada e uma mochila, e larguei no meu armário da faculdade. Devolvi filmes na biblioteca. E fui mandar uma carta com meu imposto de renda americano (dizendo que eu sou pobre e não recebi nada deste governo... nem do lá do Brasil também, se eu for parar para pensar).

E fiz tudo isto nas redondezas da minha faculdade. Passando pela St Marks, Astor Place, etc.
Quando eu saí do metrô eu já achei esquisito. O meu caminho de guerra estava cheio de barras de contenção. Curiosa que sou fui perguntar para um officer parado por perto o que era aquilo. E então ele me explicou num tom de impaciente desaprovação: é a Dance Parade.

Hã? Que? Como?

Continuei meu caminho, fiz as coisas que precisava.
Óbvio que aproveitei a street fair que estava acontecendo ali na 3a avenida, nas redondezas de onde eu estava resolvendo minhas coisas.
Passeei calmamente, olhando as ruas, as pessoas, os prédios.
Almocei o melhor crepe que eu já achei aqui - cogumelo espinafre e queijo - 8 dólares. (Eu estou indo embora, posso comer direito, vai?)

Continuei andando com meu prato de crepe e passei na frente de uma muvuca se aglomerando. Era um dos pontos principais da parada. Um Dj começou a tocar. Sentei na sarjeta, no sol, com meu pratinho de comida e resolvi dar uma de americano desocupado. Fiquei lá esperando para ver o que ia acontecer.

Uma hora depois, a parada chegou onde eu estava. E a essas alturas eu já tinha recebido um panfletinho, já tinha entendido o que era, e estava sentado num spot vip. (Só depois que eu percebi que eu estava de frente para as câmeras e devo ter saído em várias fotos e filmagens. Aff)

Enfim. A parada era para comemorar mais de 70 tipos de dança de NY. Tinha no programa desde grupos étnicos até escolas de renome em dança contemporânea (como a DNA), escolas pops (como a Broadway Dance Center) e grupos de dança do ventre.
Fiquei da 1 às 3 assistindo o povo passar dançando (e passando vontade de pular num bloco qualquer e começar a dançar).

A surpresa para mim foi o tal do Caporales Boliviano. Várias escolas muito organizadas e lotadas de gente trouxeram variações dessa dança típica. Muitos homens dançando, e uma sincronia linda de se ver. As roupas eram muito ricas e beirando o carnavalesco. Os homens pareciam caubóis astronautas com chocalhos nos tornozelos.E as mulheres ora tinham vestidos curtíssimos, ora estas roupas aí da foto.

O troféu abaxi foi para o Joffrey ballet. Quatro menininhas e um menino dançando um balé que não vale a pena comentar. Decepção ver uma das escolas mais tradicionais americanas levando seu nome meio de qualquer jeito.

Me forcei a ficar até ver o samba. Queria ver que samba que estão vendendo aqui por NY. Uma morena maravilhosa, linda e brasileira, na frente sambando. E um monte de americana .... .... .... atrás tentando, fazendo o seu melhor para sambar. Não adianta. Tem certas coisas que são culturais. Tinham pouquíssimas que davam conta. Mas o bloco em geral era bonito e dava para ver que era um bom trabalho de divulgação do Samba brasileiro.

Também passou o tal do Zouk, que eu nunca tinha visto mais gordo, e espero nunca mais ter o desprazer de ver.

Um monte de dança do ventre. Ás vezes lindo, as vezes de gosto duvidoso. Jazz, musical (o BDC que levou e tava sujo), dança moderna, contemporânea, hip hop.

Sapateado. Um grupo só. A escola pulse. Sapatear no asfalto já é algo sujeito ao desastre. O som fica próximo ao de uma unha arranhando na lousa. Mas fiquei chocada com a bagunça. Tudo bem que era um grupo grande de gente de níveis diferentes. Isto é normal. Então eles passavam andando aí paravam e dançavam o shime shame (uma sequência de sapateado que pode ser dançada por todos os níveis e é bem codificada). Mas estava tão sujo. Eu quis chorar. Os alunos mais fortes aceleravam no meio do passo e gente mais iniciante fazia cara de assustado e tentava dublar.
Já deu para ter uma imagem.

(Obs: Eu não estou dizendo que as escolas são ruins, mas estou fazendo uma descrição verdadeira e profissional, come me cabe, das performances que eu presenciei. E poxa, eu dei aula de sapateado nos meus últimos 3 anos.)

Numa das performances da Caporales tinha um blocão de mulheres dançando com vestidos curtinhos. E o local estava cheio de fotógrafos passando pela mesma ala da parada. Estava eu olhando a dança, feliz da vida. Quando a menina que estava do meu lado puxa a cabeça de um homem que estava dentro da parada e começa a dar tapa e gritar com ele. Eu tomei um susto enorme, mas demorei dois segundos para entender.

Como tem gente grosseira e inferior ainda neste mundo. O homem estava com uma máquina fotográfica normal, mas como ele fazia pose de fotógrafo ninguém estava reparando nele. Era um velho de cabeça branca agachado, filmando por de baixo das pernas das meninas.

A garota do meu lado estapeou ele e gritou. Ai o cara levantou e veio pra cima dela ( e de mim!) xingando, e depois continuou andando devagar e filmando. E toda a mulherada que estava ali por perto ficou possessa. Mas o cara se mandou rapidinho. (E tinha uma grade no meio - não dava para ninguém seguir ele). Enfim. Horrível.

Mas ok. Foi rápido, as meninas estavam de collant e meia calça por baixo, e elas estavam dançando tão lindamente que elas sequer se deram conta desta mosca no caminho delas. E é isso que importa.

Fora esta situação nada a ver, tudo ocorreu muito bem. Foi uma ótima maneira de começar a dizer tchau para NY. Após uma semana de chuva, abre o sol, eu como crepe, e vejo um monte de dança diferente.

Como há riqueza nas possibilidades do corpo em movimento, não?

E então voltei para casa, entrei no metrô, e um cara inteiro vestido de dourado - incluindo as botas, os óculos escuros e a cartola alta - sentou do meu lado. E entram os Mariachis da linha N e R para fazer a trilha sonora da minha vida.

Estou morrendo de saudades do meu Brasil. Mas confesso que vou sentir muito a falta desta maluquice de cidade que eu também chamo de casa.

Friday, May 20, 2011

O que eu faço de melhor...

Eu não costumo achar que eu sou ótima em coisa nenhuma.
Lógico, eu trabalho duro, sou determinada, tento me motivar, etc.
Tenho altos e baixos.
Danço bastante, escrevo bobagens.
Mas tudo dentro dos parâmetros da normalidade.
Mas eu nunca afirmei aqui que eu sou excelente em alguma coisa.
Mas hoje eu vou mudar esta situação.
Hoje eu vou revelar o que eu faço de melhor.
Se eu tenho um talento natural para algo... é isso.
... (pausa para intensificar o suspense) ...
Eu sou um máximo em arrumação de mala!!!
(Obs: Esta sentença - "eu sou um máximo" - me faz ter vontade de me socar e de dar risada sozinha. )
Enfim... Faltam dois dias para eu voltar para o Brasil e eu praticamente terminei minhas 4 malas e logísticas de mudança.
E olha que no meu caso não é questão de arrumar uma simples malinha.
No meu caso é complicado, porque eu estou saindo daqui, e não tenho lugar para deixar minhas coisas.
Já que agora eu estou indo embora do convento de vez. Mas volto para NY de novo em três meses.
Para morar na Terra do Nunca.
(Obs.2: Cada vez mais me dá um aperto dizer tchau aqui para as freirinhas e para meu cubículo seguro.)
Tive que organizar todas as tralhas, decidir o que fazer com as papeladas todas.
Como a gente junta tanta coisa em só 9 meses?
E o que fazer com todas aquelas pequenas coisas que eu fui comprando aos poucos e que transformaram meu quadradinho em lar?
( 2 facas, 2 garfos, 2 colheres, 2 canecas, 4 tuperwares, 2 tapetinhos de yoga, um cesto, edredons, roupa de cama, todos os materiais de papelaria para a faculdade, roupa de cama, saboneteira, etc.)
E como foi triste tirar o meu mural de fotos e trecos que eu fui colando na parede ao longo do semestre.
E tirar o mapa do metrô da porta (onde eu podia verificar rapidinho o melhor trajeto antes de ir para qualquer lugar novo).
E colocar tantas coisas no lixo.
E só sobrar paredes vazias.
Agora vou levar 2 malas grandes, e uma de mão com meus itens mais importantes.
Vou largar uma mala gigante aqui no convento com minhas coisas de inverno e com as coisas que eu fui acumulando, e rezar para a mala estar aqui quando eu voltar.
E estou deixando papeladas e livros na faculdade.
Tive que implorar para deixarem eu ficar com meu armário, pois nas férias de verão eles limpam tudo e dão os armários para o pessoal que faz curso de verão.
Esta história de viver entre dois países e não ter casa de verdade em lugar nenhum é muito complicado.


Wednesday, May 18, 2011

Medos - Isso, pode rir.





Só porque eu fiz hoje cedo um post super positivo-corajosa (abaixo) acontece um desastre na minha vida...

Não sou uma pessoa que tem muitos medos.

Odeio aranha, se uma subir em mim eu quase morro. - Medo 1.
E tenho medo de alguns filmes. Em especial alguns que eu assisti quando era criança. - Medo 2






Hoje eu - burra - estava passeando pelo Youtube, vendo trailers de filme que estão para estrear, quando me deparei com uma sequência de um filmes de meu medo infantil, que eu não deveria clicar.

Mas não, a curiosidade matou o gato. Não achei que era trailer de verdade. E quando chegou na metade, eu quase morri. Tive que ligar para pessoas. Enganar minha mente fértil.

Mas é na hora da escuridão que o medo bate.





Moral da história: são 2 da manhã. Eu tenho ensaio amanhã as 10 da manhã e tenho que estar de pé para o café às 7hs.

E não consigo nem apagar a luz do meu quarto nem muito menos pregar o olho.

Então tomei a séria decisão de virar a noite acordada.



Isso. Ri mesmo. É engraçado. Não vou dormir porque eu assisti metade de um trailer de um filme infantil.

E se vocês soubessem qual o filme...

Eu não vou escrever aqui, porque todo mundo que descobre me atormenta eternamente, e eu tenho um sério medo deste filme-personagem.



E Alana e Nicolas que sabem: Se vocês escreverem alguma coisa aqui eu deleto o meu blog inteiro (!).

Boa Noite para todo que dormem felizes enquanto eu estou aqui curtindo meu ridículo medo infantil.




Só para chutar o balde então eu vou assistir Flashdance. Enquanto como salgadinho.

E AI de quem me julgar.

Bons sonhos a todos meus amados fantasminhas dorminhocos.


Tuesday, May 17, 2011

Balanço do ano.

Como começar?

Passei os últimos dias sem escrever porque tive que digerir algumas informações.
E para isso eu precisei gastar tempo fazendo nada. Ou qualquer outra coisa que fosse inútil.

Na semana passada tive minhas últimas aulas do semestre (neste formato que eu vivenciei ao longo do último ano). E desde que eu moro aqui e vivo sob este sistema educacional meu calendário está funcionando americanizado.

O meu primeiro ano de mestrado acabou. Tirei férias por uns dias.

A partir do ano que vem toda a estrutura do meu curso fica completamente diferente, o que significa que eu vou ficar perdida de novo por pelo menos 5 meses.

....

Na semana passada tive aulas segunda-feira e depois não tive nada na terça e quarta (em que eu me proibi de escrever no blog porque eu precisava estudar). Fiz a minha última prova na quinta. Na music final do semestre anterior (a que caiu no dia do meu aniversário) eu passei 5 hs fazendo a prova. Então na quinta passada eu cheguei preparada para o pior. Mas até que foi tranquilo, o professor amoleceu.
Na sexta eu fiz um picnic no Central Park com algumas amigas e fui pegar os vídeos dos meus trabalhos na faculdade.
No sábado e domingo eu passei praticamente todo o tempo assistindo filmes. Aluguei cerca de uns 15 filmes e fui assistindo... (Porque lógico que eu tive que compensar os 4 meses sem tv e sem assistir nenhum filme em um único fim de semana).
E segunda e terça desta semana eu comecei a colocar a vida em ordem. Comecei a fazer mala, tive um ensaio, aula de final cut, coisas que eu me arrumei. Sarna para se coçar.

....

Mas deixa eu voltar de novo no tempo...

Terça-feira passada: Meeting with Faculty.
Eu na frente de todos os professores, durante 10 min. Sabia lá Deus para o quê.

Cheguei quase atrasada. (E olha que desde que eu vim para cá eu sou um primor de horários). Peguei um táxi para conseguir chegar e falei para o taxista: "Preciso estar do outro lado da cidade em 10 min. Corre. Please". Foi a primeira vez que fiz isso por aqui. O taxista quase dirigiu como eu.

Enfim, entrei na sala e lá estavam: Phyllis (composição), Kay (teatro), o chefe de departamento, uma professora de balé, meu advisor Jim, o professor de música, a Deborah Jowitt, e duas professoras de contemporâneo, a Pam e a Renné.

Todos sentados em cadeiras formando um círculo. E uma cadeira vazia a minha espera.

Cheguei tão esbaforida que não tive nem tempo em me preocupar com o formato fadado a possível desastre.

Sentei.

Todos calmamente olhando para mim e eu olhando de volta curiosa, pronta para ouvir todo mundo despejar coisas em mim.

Então o chefe de departamento, com a sua voz calma e conversativa me perguntou: E aí Carol? O que você tem para nos dizer? O que anda acontecendo?

Eu respondi surpresa: Mas sou eu que tenho que falar?

Sim.

Em 1 segundo eu organizei minha cabeça e abri minha torneirinha de asneira e falei por 5 minutos.

E foi aí que eu tive a revelação... ou o balanço do ano.

Então vamos com uma adaptação do meu discurso aqui também:

Bom. Quando eu cheguei aqui eu não tinha a mínima idéia de como eu tinha sido aceita neste programa. Eu tinha dúvidas se eu tinha qualidade, se eu era boa o bastante para estar entre gente que me impressionava tanto.
Eu tive muito medo.

Mas aos poucos fui descobrindo coisas novas em mim mesma.
Eu tive coragem de tentar conseguir alcançar as coisas que eu achava que eram meus próprios limites, e cada vez que eu tentava uma coisa eu me surpreendia ao ver que eu não só era capaz de fazer aquilo que eu tinha medo de tentar, como eu era muito melhor do que eu esperava.

Foi um processo de descoberta comparando o que eu era, o que eu achava que eu podia ser, e o que eu de fato sou: alguém com capacidades ilimitadas de mudança e desenvolvimento.

Comentei como eu me sentia perdida no Brasil. Num limbo onde a minha única possibilidade era dar aulas. Eu amo dar aula. É uma paixão enorme. Só que exatamente por eu ter esta paixão por dar aula que eu me cobro quanto ao meu próprio conhecimento.

Como alguém que tinha acabado de sair da graduação, sem experiência de mundo de dança, pode achar que sabe alguma coisa?

E foi aí que eu tomei esta decisão de vir para cá. Nunca me senti encaixando em nada no campo da Dança brasileira. Sempre fui muito criticada. Sempre me senti comparada e menosprezada.

Aqui não.

E fui isso que falei para os professores.

Quando cheguei estava com medo. Vim preparada para o pior. Mas nunca me compararam com nada, a não ser com os meus velhos padrões.

E o ambiente desta faculdade foi propício para me cercar de pessoas extremamente talentosas, que admiro muito, e me servem de inspiração. E ao mesmo tempo a escola me deu suporte para eu me sentir feliz e pronta a realizar novas coisas.

A Carol que entrou um ano atrás na NYU, que deixou a família para atrás, e veio trazendo medos, não existe mais.

(Isso não significa de forma alguma que sou a senhora-positiva-sem-medos, mas só que agora eu sou feliz e paciente com as minhas dúvidas. Faz algum sentido?)

Então continuei a falar e disse que agora quando me perguntam: E aí Carol? O que você vai fazer? Você vai continuar em NY? O que você quer fazer depois do curso? Etc.

Eu não me desespero, e eu respondo com todas as letras:

Eu não sei!!!

Mas olha que maravilha?

Tantas portas. E basta ir atravessando todas que eu vou achar mais portas ainda. Sem andar para frente a gente não enxerga onde as coisas vão dar. Só dá para ver um pouquinho de cada vez. E ser paciente enquanto seguimos andando.

A primeira coisa que eu gostaria, óbvio, é dançar.

Eu já tinha desistido de mim mesma. Eu sei que eu não sou nenhuma maravilhosa em técnica, tenho muitas dificuldades, então eu vim para cá com a esperança de dançar um pouco durante o curso e depois estar preparada para fazer outras coisas.

Mas não teve jeito. Eu agora acredito que eu posso entrar em algum lugar. Dançar nem que seja um pouquinho em alguma companhia pequena.

E neste meio tempo eu contínuo com meus projetos coreográficos e de video-dança. Que tal?

E se eu vou voltar para o Brasil? Claro que sim. Vou tentar ficar aqui um pouco mais, porque por aqui é mais fácil deu me sentir em casa dançando. No Brasil eu me sinto um alien.

Mas seja a porta que for. Eu vou entrar.

E quando eu terminei de falar, minha amada professora de composição, a Phyllis, deu um sorriso e disse que depois de tudo que eu falei eles nem precisavam falar nada...

Mas é lógico que eles todos falaram.

E foi muito bom, após um ano de trabalho árduo ouvir um feedback de como estes meus professores me enxergaram. E o que eles acham dos meus sonhos.

Eu agradeci emocionada pelo fato de estar ali. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de dizer em voz alta o quanto eu sou grata por ter sido aceita neste curso e como isto é importante para mim.

Em retorno recebi muitos comentários, a maioria positivos, sobre a minha postura e meu desenvolvimento.

Meu chefe de departamento disse que nunca tinha pensado em mim como alguém que tem medo.

E meus professores de técnica falaram para eu não me colocar limites. Que eu sou nova e para eu achar minhas maneiras de fazer as coisas.

E então a Reneé, que me viu improvisando uma vez só, me disse: Você é excelente improvisando. Use isto. Esta é sua forma de explorar técnica.

Já estou usando. Achei minha ferramenta favorita.

E a Phyllis com as suas pérolas... Ela falou na vozinha aguda mais engraçada que existe, que teve muito trabalho comigo. Que no começo ela teve vontade de pegar uma faquinha, abrir minha cabeça e olhar lá dentro, pegar umas porcarias e jogar fora. (E ela falou tudo isto fazendo gestos explicativos...) Dá para imaginar? Ela é uma velhinha de meio metro com cabelo loiro elétrico que coloca medo em qualquer pessoa. Mas eu absolutamente amo ela. Tive muitos professores bons na minha vida, mas a Phyllis é sem dúvida nenhuma a professora que mudou minha forma de enxergar, e de dançar.

Meus cadernos são cheios de quotes das frases dela:

"Don't let yourself interfere in your art.. Let yourself merge in your art!" - Phyllis Lamhut, May 5th


Enfim.

Saí da minha conversa de 10 minutos tão feliz e tão realizada.
Não tenho a mínima idéia de onde minha vida vai parar, mas estou simplesmente andando e indo em frente.

E divido isso com vocês aqui meio com vergonha, porque é muito pessoal.

Mas ao mesmo tempo, conhecimento é para ser dividido! E mesmo quem não faz dança, ou não tem nenhuma ligação com arte, pode tirar algo desta minha experiência.

É o fato de acreditar em si mesmo. Como meu pai dizia lá atrás para mim: não se mostrar nem mais do que você é, nem menos. Mas sempre buscando crescer e dar o melhor de si a cada dia. E aí, por mais que a vida seja dura, dificuldades acontecem, a vontade continua nos guiando.

E quem somos nós pequeninos para saber onde vamos parar? Temos mais é que seguir sonhando e buscando.

Algum dia a gente chega em algum lugar.

Algum dia eu chego.



Saturday, May 7, 2011

Sábado muitíssimo produtivo!

Tive o melhor sábado dos últimos tempos.

Nem acredito que minha roomie está para ir embora.
A nati me deixou maluca algumas vezes, mas ela foi uma super companheira todo este tempo. E as coisas vão ficar mais solitárias sem essa irmãzinha que eu me arrumei.

Em comemoração aos últimos dias de NY dela, eu estou fazendo todas as suas vontades.
Fui passear em Chinatown com ela e atravessei a ponte do Brooklyn hoje.
E depois fui no Pier 1.

Quem lembra de um dos meus primeiros posts aqui em NY? Fazia 3 ou 4 dias que eu estava aqui, e eu fui burra, sozinha, atravessar a ponte, andar no Brooklyn e etc., achando que eu estava abalando. Fui assistir um filme no parque e quase morri congelada e deprimida de estar fazendo tudo sozinha.

E olha como o mundo dá voltas: agora, semanas antes deu retornar para o Brasil, eu repito o percurso que eu tinha feito lá atrás, só que desta vez muito feliz e com companhia.

Enfim.

Comprei morango e blueberry a 1 dólar em Chinatown. ( Eu amo Chinatown, pois o preço de mercado é 4 dólares).

Comi num restaurante na Little Italy. (Minha vida alimentícia também vai ficar bem mais chata sem a Nati)

Vi a photo shoot de algo high fashion com uma modelo bem descabelada.

Vi três noivas e quatro aniversariantes comemorando seus sweet sixteens com vestidos bolão em cores meio duvidosas.

Fizemos uma sessão de fotos, tirando 300 fotos!

Um sábado extremamente produtivo.

Tirei o dia off para passear e ser feliz sem preocupação.

Depois tive o último dia trabalhando no Showing V.
Finalmente acabou. Desde segunda tenho ficado todos os dias até tarde na NYU trabalhando na produção do último concerto dos alunos deste semestre.

Andei o dia inteiro. E lembrei de como eu amo NY.
É impressionante como eu me emociono olhando as águas com o skyline de NY ao fundo.
Dá aquela sensação de viver numa realidade paralela e cai a ficha que eu moro aqui.

Amo ver as esquisitices, as pessoas.
Os prédios velhos, os prédios novos.

Ouvir chinês, italiano, francês, espanhol, russo, português. Ahh... e de vez em quando escutar algo em inglês.

Amo o metrô velho e sujo.
O asfalto daqui tá pior do que o rali da car ( e pensar que o pessoal em Campinas reclamava). Mas quem se importa? 90% dos moradores New Yorkers andam de metrô mesmo.

A primavera está abrindo as portas.

E tem tulipas, folhas verdes e flores brancas pela cidade inteira.

NY: Posso te guardar em um potinho de azeitona e te pendurar no meu pescoço?

Eu amo esta cidade.




Friday, May 6, 2011

12 Drops do meu cérebro.

1. Vontade de sapatear vindo do além.

2. Amanhã vou no aquário. (..."E o peixinho nada, nada, nada..." - piada interna)

3. Deveria ter acabado meu trabalho sobre o piano concerto em Sol maior de Ravel.

4. Hoje fui num festival de morango na nyu. Tomei sorvete de graça e ganhei morangos (Isso porque eu tenho feito um esforço em eliminar doces até o meu casamento).
E no festival, cheio de barraquinhas, numa rua fechada, tinha um monte daquelas brincadeiras bregas americanas que a gente vê em filme. Aquela de bater o martelo e ver a sua força. Uma outra brincadeira breguíssima de espremer o leite de uma vaca de mentira, e outras mais que eu não lembro.

5. Ainda não tá calor, mas as pessoas simplesmente resolveram fingir que o frio não existe mais e agir como se fosse verão.
E com as roupas de calor dá para ver com mais clareza as maluquices alheias.
Cada doido por aí. Pena que o blog não tá ligado à minha mente. Minha cabeça está muito cheia e eu não estou conseguindo relembrar de cada um dos malucos que vi nestes últimos dias.

6. Devolvi todos os livros sobre a Mary Wigman na biblioteca. Marcando oficialmente o fim deste relacionamento. (Se bem que acho que não. Ela me marcou tanto que acho que não me larga nunca mais.)

7. Consegui por um milagre divino mandar um e-mail importantíssimo a tempo. E fui a última pessoa a ser aceita para coreografar a companhia. Meu trabalho coreografando bailarinos da Second Avenue Dance Company será em Março do ano que vem. Comecei o casting, e comecei a arrancar meus cabelos.

8. Estou sofrendo de surtos de humor. Hora muito animada, e em todas as outras horas, muito triste.
Primeiro, porque está batendo muita insegurança. Ver alunos se graduando. Têm pelo menos 10 audições para companhias profissionais acontecendo este mês aqui. Milhões de festivais, minhas colegas envolvidas e trabalhando em um monte de coisa. Tem gente indo para Praga e gente indo para programas de dança de verão em Salsburg. E eu, como estou voltando para o Brasil, não estou fazendo nada.
E segundo, porque ninguém me convidou para dançar no próximo ano, até agora. Então está batendo aquele desespero familiar. Será que eu sou uma droga? Será que eu não fui profissional o suficiente nos meus últimos trabalhos? Etc...
E terceiro porque eu não aguento mais de saudade. Eu quero meu noivo. Quero apertar minha irmã, bagunçar o cabelo do meu irmão. Pular no colo do meu pai. Simplesmente olhar nos olhos da minha mamãe. Pisar em casa e ver minha cachorrinha correr em minha direção. Abraçar a Alaninha. Comer sushi. Ver minhas alunas (que eu deveria parar de chamar de alunase assumir de vez que são minhas amigas-filhotas). Ir no centro. Ver meus quatro avós. Encontrar toda minha família. Ir na pós-comemofra. Entregar convites. Casar.
Enfim. Essas coisas.

9. Mas como o surto de humor vai do fundo do poço até a ponta do Himalaia no mesmo dia, eu estive no núcleo terrestre há umas horas atrás, e agora estou chegando no Himalaia do bom humor. Como eu disse antes... bateu uma vontade de sapatear do Além. E vou fazer que nem a dona Mary Wigman. Se ela conseguiu eu também posso. O primeiro solo dela ela tinha 28 anos, vai? Isso só pode significar que todo mundo que é maluco e determinado o suficiente tem chance.
Estão brotando coreografias e projetos no meu cérebro.

10. Sério. Eu não entendo como a minha mente funciona. Neste exato momento eu tenho 5 ou 6 projetos de dança completamente diferentes se desenvolvendo na minha cabeça. Além de "to do lists" para os próximos dias, de trabalhos escritos se organizando, casamento, planos a curto e a longo prazo, etc.

11. É fato.

12. Estou louca.

Tuesday, May 3, 2011

De Cinderela à gata borralheira

Pois é.
Estive ausente do blog mas foi por um bom motivo.
Meu espetáculo de CC&D foi excelente. Estou muito orgulhosa tanto como coreógrafa quanto bailarina.

Minha coreografia com a Lauren e a Shuhan foi absolutamente a única feliz e humana do espetáculo, porque todo o resto era bem dark. Dei conta de dançar com um elenco estrelado e fazer o papel principal. Tiveram alguns problemas pelo caminho, fiquei nervosa, a pressão nos meus ombros era grande e fico chateada porque eu quase morri dando o máximo de mim, sangrei, fiquei roxa, e mesmo assim tive que ouvir poucas e boas. Mas sinceramente, é engrandecimento de caráter. No final das contas eu aprendo sempre que tipo de coreógrafa e de pessoa eu quero ser.

Quase morri tentando fazer meu trabalho da Mary Wigman nos últimos dias.
Depois de uma maratona de espetáculos na última semana eu passei o domingo inteiro na frente do laptop, rangendo os dentes, roendo as unhas e arrancando os cabelos. 18 páginas depois eu andei um pouco no meu trabalho. Mas mesmo assim estava uma porcaria.

Ontem, segunda-feira eu tive a famosa audição da Sra Azsure Barton.
Como eu vinha pesquisando o trabalho dela eu já sabia o que esperar. E não me surprendi.
Óbvio que ela era estrelada e a sequência que tivemos que aprender foi o cão chupando manga.
Minhas colegas não gostaram tanto, acharam meio Jazzística, com uma contagem em 6 que era o terror.

Perna na orelha, contração. Se joga no chão e fica de pé de novo. Dá um sorriso e tchauzinho e então se estapeia no rosto. Mas eu gostei. Acho que há 1 ano atrás se eu chegasse perto de fazer esta audição eu enfartava só de medo. Mas eu ando bem mais segura e feliz com meu trabalho.

Foi uma audição difícil, mas fiz o meu melhor. E já valeu porque deu para aprender um pouco do estilo e de trechos do repertório da coreógrafa. Infelizmente eu acho que como a decisão final depende da somatória da escolha do coreógrafo, mais a decisão do chefe de departamento é bem difícil que eu consiga cair na coreografia dela. Mas vou continuar desejando. E se não der, paciência.

E então com este peso a menos na minha cabeça estava feliz e pronta para dar continuidade na minha escrita de trabalho quando me toquei que esta semana eu estou teching o Showing V. Ou seja, minha função é varrer o linóleo, passar pano. Ficar com o headphone nas coxias, abrir e fechar as cortinas do saik. No teatro que eu tava no centro há três dias atrás, hoje eu estou limpando o chão. Vai dizer se formação acadêmica americana em artes, não é bem democrática? De cinderela à gata borralheira.

Sem tempo, sem comida, com a bateria do meu lap off, e meu celular sem crédito. Fiquei entrando em pânico, torrando meu tempo precioso das 7 até às 11:05. Quando repararam que eu estava quase enfartando me liberaram.

Chorando (para variar) cansada, com fome, corri rezando para pegar o metrô rápido. Vocês lembram que o convento fecha e elas me trancam para fora? O horário é até as 11:30.
O metrô parou na minha estação às 11:25. E o trajeto a pé que geralmente leva de 15 a 20 minutos eu fiz em 7. Tinha uma freirinha me esperando. E eu fui a última a entrar.

Sem terminar meu trabalho, em pânico total, sem comida em casa porque não tive tempo de fazer compras, eu skypiei o noivo e chorei as pitangas. O cansaço era tanto que nem dormir eu conseguia.

Alguma hora da madrugada eu apaguei. E hoje acordei as 6 da manhã, ligada no 220. E terminei meu trabalho.

O dia foi relativamente mais calmo, e agora eu to finalmente começando meu trabalho final de música que é para depois de amanhã. Me preparei melhor e fiz um farnelzinho para aguentar a maratona de tempo inútil no teatro. Trabalho obrigatório para passar na discplina de produção: basta fazer parte da produção de um dos concertos do curso a cada ano.

Agora estou mais animada e na reta final.

Eu sempre me impressiono com as semanas de final de semestre. Sabe aquela semana da sua vida que você pensa: é desta vez... é nesta semana que eu vou morrer e que não vou aguentar.
Mas surpreendentemente, ano após ano, minhas semanas cabalísticas de final de semestre ( e de meio de semestre também) sempre viram passado. E eu sempre saio viva.

Em oito dias eu vou ter oficialmente meio mestrado... =)

Dear Mary Wigman

Dear Mary Wigman,

You have been present in my life in the last three months, and sometimes you were an inspiration, and in others you almost lead me to my death.
I was overwhelmed with your ideas and your dance.
I didn't sleep well after seeing your witch dance in an old film roll, and your pastoral was indeed full of joy.
But, from all your solos that I had the opportunity to watch, Summer Dance was my favorite. And reading your book I discovered that that solo was your favorite from that cycle too!
Funny how this things happens, isn't it?
I was amazed to see how you could make such simple movements filled with tension and meanings.
And then I saw Totenmal, or at least, a small excerpt from it. Are those images real? So sad, creepy... and full of grieve. Why were you so obsessed with facing the death?
But I'm not one who can imagine what it was like to live in Germany before, during and after war. Nazism. Sad memories.
Well... not that things are great now.
People still kill each other for no reason. Politicians do whatever they want and we all have to survive within others people decisions.
And we artists sill struggle to survive.
But our passion for dance remains. There's nothing better in the word than to express emotions and ideas through movement, right?

Anyway, I want to thank you for all the information you gave me this past months, but I truly hope that you'll never drive me crazy again, ok?

I'm glad to say that I finally finished my paper and I can sleep again.
Hopefully I would not dream with totenmal...

Dear Mary.... You fought with the idea of dying so much, and I'm glad to tell you that you're very alive in our memories trough your art.

Sincerely,

Carol.



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