Sunday, September 26, 2010

Meu colar...

Ganhei esse colar da minha tia madrinha de uma viagem que ela fez ao Egito.
O colar é prateado e tem uma mandala hezagonal com um padrão de linhas e uma pequena bolinha no centro.

Desde quando ganhei esse colar ele se tornou meu item favorito, tendo tanta importância para mim quanto minha aliança de noivado.
Esse colar, com sua mandala relativamente pesada, se alojava bem no centro do meu peito, com um peso particular. Quando usava esse peso eu ficava com uma sensação constante de escudo.
O significado da mandala tinha algo a ver exatamente com isso: um sol protetor.

E qual meu sol protetor?
Não só minha madrinha, mas toda minha família e aqueles que me amam. Nos dias que me sentia mais apavorada eu colocava o colar.

Quando entrei no avião estava usando o colar. No primeiro dia de aula também. E ontem que eu estava com medo do ensaio e me sentia carente de proteção, coloquei o colar para me sentir protegida e forte.

Qual o real valor das coisas materiais? É o valor em si, ou a projeção que colocamos em algo?

Ontem perdi meu colar em algum lugar do meu caminho.

Quando me dei conta voltei todo o caminho de metrô ( e ontem eles estavam lentos) revirei todos os lugares que eu passei na NYU: a sala de aula, o sofá que eu sentei para me arrumar, meu locker. O caminho que eu fiz junto com a minha amiga Cecília até a feira que fechou grande parte da rua da Broadway (downtown). Fiz o caminho olhando para o chão, repassando por cada barraquinha que paramos.

Coloquei meu óculos escuro para disfarçar as lágrimas que não paravam de cair. Falei com o vendedor da limonada que tomei. Falei com a vendedora do crepe frances que eu e Cecília comemos. Nada.

Perdi a esperança.

Me senti sozinha, desprotegida, nua. E sem ligação com aqueles que me protegem.

Peguei o metrô sem prestar muita atenção se eu estava pegando a linha certa. Ontem várias linhas que eu pego estavam paradas então eu tinha que pegar alternativas. Entrei sem me importar se ia chegar ou não em casa.

Não tenho vergonha de chorar na frente de conhecidos ou desconhecidos.

O grande problema é quando o choro se torna copioso e soluçado. No metrô, que se movia lentamente, perdi o controle. O óculos não escondia mais porcaria nenhuma. Sentei na ponta vazia do vagão e tentei olhar para o canto escondendo meu rosto com as mãos. Não tinha número de celular para ligar para a mãe, para o namorado ou para a melhor amiga. Me sentia mais sozinha do que me senti desde que cheguei aqui. Nesse momento, uma desconhecida caminhou em minha direção, dei um sobressalto, e ela estendeu a mão me oferecendo lençinhos de papel.

Quentinho no coração. Dei um sorriso e peguei um lenço de papel. Me acalmei, procurei controlar minhas emoções. A cada instante minha razão me dizia:"Ccomo você pode chorar e perder o controle de tal maneira por um colar? Olha o mundo, olha os problemas de verdade! Nesse exato instante tem alguém passando fome, tem gente sendo maltratada, tem gente que perdeu a fé no mundo. Chore pelo outros, não por mim mesma".

Saí do metrô: mais um morador de rua dormindo na escada.

Passei pela Columbus Station e andando pelas calçadas dos hoteis elegantes por onde passo prestei atenção mais uma vez em algo que sempre me atrai... Ia escrever isso nos drops de NY, mas acho que também cabe aqui: algumas calçadas da cidade são feitas de um material diferente que faz parecer que você está andando em purpurina, um chumbo escuro com estrelas. Pessoas andam rapidamente por cima deste chão. Por alguma razão que não sei, toda vez que passo por uma destas calçadas sinto um alento. Como se todos pudéssemos andar sobre as estrelas se quisermos.

Continuei andando. Passei por uma noiva radiante com seu marido, suas madrinhas vestidas iguaizinhas e padrinhos. Fotógrafos tiravam fotos deste comboio bonito enquanto eles atravessavam a 8 avenida, cruzando meu caminho.

Virei a esquina para minha casa. Mais controlada, um acesso de soluço aqui, um silencio, choro esganiçado rompia de vez em quando.

Um senhor de idade em cadeira de rodas, sem sua perna esquerda, passou por mim olhando no meu rosto. Engoli o choro bobo. Quis chorar novamente.

Cheguei em casa.

1 comment:

  1. E mesmo momentanea, a perda serviu pra reflexão, pra aprendizado...

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