Friday, September 24, 2010

Review de "Singular Sensation", coreografia de Yasmeen Godder. Teatro The Kitchen, NY.

Ok. Você mora em NY. Quer viver de dança. Assiste uma premiere de um espetáculo junto com duas das maiores professoras do seu departamento e sabe a opinião delas sobre este espetáculo. O que você diria para as pessoas que lêem seu blog e que imploraram para você não virar uma intelectualóide new yorker metida e chata?
Então vamos ao review...
...

Yasmeen Godder é uma coreógrafa israelense, ex-aluna da TSOA, que tem trabalhado com Dança Contemporânea em Tel Aviv e vivido na ponte aérea NY-Israel. A proposta deste trabalho que assisti era de explorar as paisagens emocionais de uma geração desensibilizada pelo excesso de informação e por excessos de todos os tipos. Ela pretendia criar uma conexão com as sensações humanas. (tradução livre do programa)

Do ponto de vista emocional este trabalho é absurdamente visceral. O exagero dramatúrgico completo. Risadas, choros. Fiquei estupefata. Sabe todos aqueles movimentos proibidos socialmentes de serem feitos? Estavam lá. Sexualidade e narcisismo escancarados. Um tapa na cara. Bombas. Me senti no oriente médio. Mas senti que este oriente médio dançado pelos bailarinos israelenses não estava tão distante assim dos personagens de arquétipos culturais de danças brasileiros como exu, pomba-gira e outros.
Música psicodélica, psicótica, psicopata.
Cinco bailarinos completamente diferentes que não dançaram juntos quase em nenhum momento. A sensação era que eles não estavam dançando, mas nos sobrecarregando de informações emocionais. Mas isso não quer dizer que tudo parecia uma grande improvisação, pelo contrário, o trabalho era tão bem coreografado que fluia como se não fosse. Percebia-se que tudo que estava sendo feito era absolutamente harmônico, ou desarmônico intencionalmente, porque o trabalho físico e das relações entre os bailarinos era extremo.
Perceberam se eu gostei?
Sim, mas porque fui preparada e aberta para assistir qualquer coisa.
Arte contemporânea é indigesta, seletiva. Quem tem paciência para tanta intelectualização e abstração? Às vezes só aqueles que trabalham na área.
Das sensações ao nonsense completo: de um bailarino sendo bombardeado (seus movimentos davam esta idéia), a uma bailarina com cara de top model fazendo tudo "inadequado" de possível com unhas gigantes de pimenta. Ela come as pimentas e cospe. Um bailarino faz "xixi" (de mentira) de tinta verde em outro.
Mesmo quando havia um bailarino com meia bege na cabeça, óculos de natação nos olhos, plástico enrolado na cabeça, papel enfiado nas orelhas que davam sensação de antenas e enchimento na região dos bíceps, criando a ridícula imagem de um super herói alieníngena, este trabalho enlouquecido foi inspirador.
Prometo que não estou maluca.
Mas foi tão diferente de tudo que já vi, libertário e desafiador que me mantive interessada do começo ao fim.
Até mesmo nos anti-clímax em que uma bailarina começou a estourar pequenas bexigas presas em partes estratégicas do corpo dela com uma tesoura pontiaguda. Tinta voava em direção à plateia.
Confete que aparecia do nada sob a cabeça de um casal de bailarinos que se amava e se matava em cena. Prazeres e dores.
E então veio a massa de macarrão spaguetti que caiu se esparramando pelo linóleo branco.
E por último essa gelatina vermelha que foi trazida e colocada no meio do palco. Então pisada pelo bailarino alieníngena. E outros bailarinos mergulharam na gelatina pisoteada, começaram a nadar nela e se eu não me engano alguém comeu essa gelatina. Era muita informação o tempo todo. E paradoxalmente todas essas bizarrices aconteciam de forma dançada e natural.
Vai entender?
Bom, mas se dança fosse algo que a gente entendesse com palavras ninguém dançaria...

1 comment:

  1. Juro que eu tentei criar uma imagem mental das cenas, mas tenho certeza que não se aproximou em nada do que realmente você viu...

    Não entendi não nada msm, rs. Mas ainda assim, faz pensar.

    Como vc disse que não era pra entender com palavras, me sinto menos mal...

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