Tuesday, May 17, 2011

Balanço do ano.

Como começar?

Passei os últimos dias sem escrever porque tive que digerir algumas informações.
E para isso eu precisei gastar tempo fazendo nada. Ou qualquer outra coisa que fosse inútil.

Na semana passada tive minhas últimas aulas do semestre (neste formato que eu vivenciei ao longo do último ano). E desde que eu moro aqui e vivo sob este sistema educacional meu calendário está funcionando americanizado.

O meu primeiro ano de mestrado acabou. Tirei férias por uns dias.

A partir do ano que vem toda a estrutura do meu curso fica completamente diferente, o que significa que eu vou ficar perdida de novo por pelo menos 5 meses.

....

Na semana passada tive aulas segunda-feira e depois não tive nada na terça e quarta (em que eu me proibi de escrever no blog porque eu precisava estudar). Fiz a minha última prova na quinta. Na music final do semestre anterior (a que caiu no dia do meu aniversário) eu passei 5 hs fazendo a prova. Então na quinta passada eu cheguei preparada para o pior. Mas até que foi tranquilo, o professor amoleceu.
Na sexta eu fiz um picnic no Central Park com algumas amigas e fui pegar os vídeos dos meus trabalhos na faculdade.
No sábado e domingo eu passei praticamente todo o tempo assistindo filmes. Aluguei cerca de uns 15 filmes e fui assistindo... (Porque lógico que eu tive que compensar os 4 meses sem tv e sem assistir nenhum filme em um único fim de semana).
E segunda e terça desta semana eu comecei a colocar a vida em ordem. Comecei a fazer mala, tive um ensaio, aula de final cut, coisas que eu me arrumei. Sarna para se coçar.

....

Mas deixa eu voltar de novo no tempo...

Terça-feira passada: Meeting with Faculty.
Eu na frente de todos os professores, durante 10 min. Sabia lá Deus para o quê.

Cheguei quase atrasada. (E olha que desde que eu vim para cá eu sou um primor de horários). Peguei um táxi para conseguir chegar e falei para o taxista: "Preciso estar do outro lado da cidade em 10 min. Corre. Please". Foi a primeira vez que fiz isso por aqui. O taxista quase dirigiu como eu.

Enfim, entrei na sala e lá estavam: Phyllis (composição), Kay (teatro), o chefe de departamento, uma professora de balé, meu advisor Jim, o professor de música, a Deborah Jowitt, e duas professoras de contemporâneo, a Pam e a Renné.

Todos sentados em cadeiras formando um círculo. E uma cadeira vazia a minha espera.

Cheguei tão esbaforida que não tive nem tempo em me preocupar com o formato fadado a possível desastre.

Sentei.

Todos calmamente olhando para mim e eu olhando de volta curiosa, pronta para ouvir todo mundo despejar coisas em mim.

Então o chefe de departamento, com a sua voz calma e conversativa me perguntou: E aí Carol? O que você tem para nos dizer? O que anda acontecendo?

Eu respondi surpresa: Mas sou eu que tenho que falar?

Sim.

Em 1 segundo eu organizei minha cabeça e abri minha torneirinha de asneira e falei por 5 minutos.

E foi aí que eu tive a revelação... ou o balanço do ano.

Então vamos com uma adaptação do meu discurso aqui também:

Bom. Quando eu cheguei aqui eu não tinha a mínima idéia de como eu tinha sido aceita neste programa. Eu tinha dúvidas se eu tinha qualidade, se eu era boa o bastante para estar entre gente que me impressionava tanto.
Eu tive muito medo.

Mas aos poucos fui descobrindo coisas novas em mim mesma.
Eu tive coragem de tentar conseguir alcançar as coisas que eu achava que eram meus próprios limites, e cada vez que eu tentava uma coisa eu me surpreendia ao ver que eu não só era capaz de fazer aquilo que eu tinha medo de tentar, como eu era muito melhor do que eu esperava.

Foi um processo de descoberta comparando o que eu era, o que eu achava que eu podia ser, e o que eu de fato sou: alguém com capacidades ilimitadas de mudança e desenvolvimento.

Comentei como eu me sentia perdida no Brasil. Num limbo onde a minha única possibilidade era dar aulas. Eu amo dar aula. É uma paixão enorme. Só que exatamente por eu ter esta paixão por dar aula que eu me cobro quanto ao meu próprio conhecimento.

Como alguém que tinha acabado de sair da graduação, sem experiência de mundo de dança, pode achar que sabe alguma coisa?

E foi aí que eu tomei esta decisão de vir para cá. Nunca me senti encaixando em nada no campo da Dança brasileira. Sempre fui muito criticada. Sempre me senti comparada e menosprezada.

Aqui não.

E fui isso que falei para os professores.

Quando cheguei estava com medo. Vim preparada para o pior. Mas nunca me compararam com nada, a não ser com os meus velhos padrões.

E o ambiente desta faculdade foi propício para me cercar de pessoas extremamente talentosas, que admiro muito, e me servem de inspiração. E ao mesmo tempo a escola me deu suporte para eu me sentir feliz e pronta a realizar novas coisas.

A Carol que entrou um ano atrás na NYU, que deixou a família para atrás, e veio trazendo medos, não existe mais.

(Isso não significa de forma alguma que sou a senhora-positiva-sem-medos, mas só que agora eu sou feliz e paciente com as minhas dúvidas. Faz algum sentido?)

Então continuei a falar e disse que agora quando me perguntam: E aí Carol? O que você vai fazer? Você vai continuar em NY? O que você quer fazer depois do curso? Etc.

Eu não me desespero, e eu respondo com todas as letras:

Eu não sei!!!

Mas olha que maravilha?

Tantas portas. E basta ir atravessando todas que eu vou achar mais portas ainda. Sem andar para frente a gente não enxerga onde as coisas vão dar. Só dá para ver um pouquinho de cada vez. E ser paciente enquanto seguimos andando.

A primeira coisa que eu gostaria, óbvio, é dançar.

Eu já tinha desistido de mim mesma. Eu sei que eu não sou nenhuma maravilhosa em técnica, tenho muitas dificuldades, então eu vim para cá com a esperança de dançar um pouco durante o curso e depois estar preparada para fazer outras coisas.

Mas não teve jeito. Eu agora acredito que eu posso entrar em algum lugar. Dançar nem que seja um pouquinho em alguma companhia pequena.

E neste meio tempo eu contínuo com meus projetos coreográficos e de video-dança. Que tal?

E se eu vou voltar para o Brasil? Claro que sim. Vou tentar ficar aqui um pouco mais, porque por aqui é mais fácil deu me sentir em casa dançando. No Brasil eu me sinto um alien.

Mas seja a porta que for. Eu vou entrar.

E quando eu terminei de falar, minha amada professora de composição, a Phyllis, deu um sorriso e disse que depois de tudo que eu falei eles nem precisavam falar nada...

Mas é lógico que eles todos falaram.

E foi muito bom, após um ano de trabalho árduo ouvir um feedback de como estes meus professores me enxergaram. E o que eles acham dos meus sonhos.

Eu agradeci emocionada pelo fato de estar ali. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de dizer em voz alta o quanto eu sou grata por ter sido aceita neste curso e como isto é importante para mim.

Em retorno recebi muitos comentários, a maioria positivos, sobre a minha postura e meu desenvolvimento.

Meu chefe de departamento disse que nunca tinha pensado em mim como alguém que tem medo.

E meus professores de técnica falaram para eu não me colocar limites. Que eu sou nova e para eu achar minhas maneiras de fazer as coisas.

E então a Reneé, que me viu improvisando uma vez só, me disse: Você é excelente improvisando. Use isto. Esta é sua forma de explorar técnica.

Já estou usando. Achei minha ferramenta favorita.

E a Phyllis com as suas pérolas... Ela falou na vozinha aguda mais engraçada que existe, que teve muito trabalho comigo. Que no começo ela teve vontade de pegar uma faquinha, abrir minha cabeça e olhar lá dentro, pegar umas porcarias e jogar fora. (E ela falou tudo isto fazendo gestos explicativos...) Dá para imaginar? Ela é uma velhinha de meio metro com cabelo loiro elétrico que coloca medo em qualquer pessoa. Mas eu absolutamente amo ela. Tive muitos professores bons na minha vida, mas a Phyllis é sem dúvida nenhuma a professora que mudou minha forma de enxergar, e de dançar.

Meus cadernos são cheios de quotes das frases dela:

"Don't let yourself interfere in your art.. Let yourself merge in your art!" - Phyllis Lamhut, May 5th


Enfim.

Saí da minha conversa de 10 minutos tão feliz e tão realizada.
Não tenho a mínima idéia de onde minha vida vai parar, mas estou simplesmente andando e indo em frente.

E divido isso com vocês aqui meio com vergonha, porque é muito pessoal.

Mas ao mesmo tempo, conhecimento é para ser dividido! E mesmo quem não faz dança, ou não tem nenhuma ligação com arte, pode tirar algo desta minha experiência.

É o fato de acreditar em si mesmo. Como meu pai dizia lá atrás para mim: não se mostrar nem mais do que você é, nem menos. Mas sempre buscando crescer e dar o melhor de si a cada dia. E aí, por mais que a vida seja dura, dificuldades acontecem, a vontade continua nos guiando.

E quem somos nós pequeninos para saber onde vamos parar? Temos mais é que seguir sonhando e buscando.

Algum dia a gente chega em algum lugar.

Algum dia eu chego.



5 comments:

  1. Chorei, chorei, chorei...

    Lindo post, Xu! Foi um dos que mais me emocionou até hoje, porque é tão leve, tão natural... Essa sua constatação da caminhada que continua e das inúmeras possilibidades que você só vai descobrir ao longo do caminhos... Lindo demais!

    Parabéns, Xu! Essa minha Carol mm, que eu amo tanto e me enche de orgulho!

    E vem logo Brasilar, que a saudade tá apertando!

    See you soon!

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  2. tenho de confessar que, no meio de tantas belas frases e pensamentos, o que mais me deixou animada foi ler "Comecei a fazer as malas...". Óbvio que dá até vergonha de dizer isso devido à beleza de sua maneira de escrever, mas realmente fiquei feliz!! Tenho mil coisas para comentar sobre esse post, mas demoraria horas e horas para escrever!! Se you soon! [2]

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  3. Amei esse post Carol!

    Tive a mesma impressão da Alana, foi um texto leve e que deixa todos que lêem com uma certa felicidade e vontade de tentar!

    Estou muito feliz por vc e td que realizou. Você tem a noção de quanto isso que vc está fazendo é grande? Vc é o máximo! haha

    Bjoos mil! Até logo! =)

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  4. Seu chefe de departamento tem razão em não acreditar que você seja uma pessoa que tenha medo das coisas.

    Como que uma pessoa medrosa aplica sozinha para universidades americanas, descobre tudo que tem que fazer, faz, consegue, vai, chega sozinha em NY, fica na casa vazia de uma conhecida da tia por uma semana, procura aonde morar sozinha, anda pela cidade toda a pé, de metrô, entre os ratos etc? Não. Uma pessoa que tem medo não faz este tipo de coisa...

    Acho que você é bem corajosa e determinada, Carol!

    E quem tem estas qualidades chega longe!

    Parabéns por concluir a primeira etapa do seu mestrado com tanto primor!

    Você nos dá muitas alegrias e estamos ansiosos contando os minutos para sua volta. Bjs

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  5. Concordo plenamente com a Ani!!!

    Desculpa não escreve nd inteligente e bonito, acho que eu nem consigo depois de ler um post desses.

    É que eu tenho tanta coisa pra falar pra vc more, o tanto qe eu admiro vc pelo seu esforço e determinação que só "ao vivo" mesmo!!

    Te amo mtoooo
    Vem logo...não aguento mais mais de sds

    Te amooooo (de novo)
    Bjos

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