Tuesday, February 1, 2011

Cena de Metrô


O Metrô é sempre fonte de pesquisa e reflexão.
Onde tantas pessoas se cruzam.
Tantas vidas passageiras.
Sem prestar atenção um no outro.

Curiosa que sou.
Gosto de observar como os corpos se equilibram no vaivém.
Quando acelera, quando se freia.
Agora o chão está sempre molhado das galochas sujas de neve e sal.

Pessoas lutam para se equilibrar.
Alguns olham para baixo e outros vagamente percebem o seu redor.
O espaço às vezes e apertado e às vezes não.
Os celulares são os melhores amigos das mãos que procuram matar o tempo.

Alguns corpos desfalecem cansados.
E eu também aprendi a dormir entre as paradas.
E o que era novo se torna rotina.
As cenas passam despercebidas.

Os Mariachis continuam me perseguindo pela linha N e R.
As pessoas pedem dinheiro e eu sou só mais uma estátua que não faz nada.
Mas aqui e ali uma cena prende minha atenção.
E lá estou eu de novo com caraminholas na cabeça.
Me perguntando "Por que"?

Dia da tempestade de neve.
Crianças empacotadas de casaco para todo lado.
Olhando para minha frente à direita havia essas duas mulheres com três crianças.
Todas as crianças pequenas e falantes.

Casacos coloridos.
E prancha para escorregar na neve.
Provavelmente a caminho do Central Park.
As mulheres conversavam animadamente e as crianças seguiam o exemplo.

Já na minha esquerda havia uma mulher e seu filho.
A mesma idade das outras crianças.
Negros. Pobres. Sofridos.
E silenciosos.

A mulher de semblante tenso
puxava o casaco de moleton fininho do garotinho.
Que insistia em brincar silenciosamente
tamborilando seus dedinhos atentos pelo assento do banco.

E eu olhava para a direita e para a esquerda.
E um nó subia pela garganta.
Essas vidas acabaram de se cruzar.
Mas não sabem disso.

3 comments:

  1. Às vezes me pergunto como o mundo chegou a esse ponto...como pode existir tanta diferença entre as pessoas...

    Chorei com seu post..há uma semana atrás mais ou menos, quando eu estava chegando em casa por volta das 22h um menino de mais ou menos 12 anos pede pra meu pai se ele tem uma calça ou cobertor pra doar, pois ele estava com frio (um dia que fez frio a noite aqui em Cps)...

    Dói ver crianças que não tem direito à infância, que são obrigadas a viver num mundo de desespero e impotência, fome, pobreza, sem poder estudar, brincar, ter um lar, ter uma família.

    Quando você logo ao lado crianças comparando suas riquezas, suas bicicletas e tênis, a revolta com a injustiça do mundo é maior.

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  2. Também chorei com seus 2 posts sobre o metrô, Carol.
    Quando eu morava no RJ e andava de ônibus e metrô pelas ruas diariamente, convivia com a mesma situação.
    Desde que passei a andar só de carro, fiquei mais distante dessas situações, porém não insensível- em hipótese alguma!

    Vamos fazendo a nossa parte como podemos, contribuindo um pouquinho aqui e acolá com instituições idôneas que fazem bons trabalhos de "ensinar a pescar" e não apenas "dar o peixe" para os necessitados...e vamos também contribuindo com um pouquinho de nosso tempo em trabalhos voluntários, certo?
    Bjão!

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  3. Nossa, não tem nem o que dizer...

    O desequilíbrio e desigualdade são horríveis, mas a indiferença é tão ruim quanto.

    Que a gente nunca perca a capacidade de indignação.

    E que a gente sempre possa colaborar um pouco...

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