Tuesday, February 1, 2011

Covardia. Ou outra cena de metrô.

Ontem tive um dia excelente.
Depois de tanto sufoco finalmente me tranquilizei e sai do prédio da dança feliz da vida.
Pensando nas coreografias que estou dançando, nas coisas por fazer, nisso e naquilo.
Rumo à minha casa eu entro no metrô.

Pronto.
Fim da alegria.
Dose de realidade.
Boa noite.

Entro pela porta e vejo alguma comoção nos assentos do canto do vagão.
Olho para meu lado e vejo um homem caído no chão.
Um mendigo talvez.
Bêbado? Drogado? Ou doente. Ou com fome.

Em um impulso desagradável aperto o passo
Vou sentar num banco livre no outro canto do trem.
O coração pulsa assustado.
O trem está cheio.

Um bando de estátuas olhando de esguelha.
Percebo que há três mulheres que se encaminham ao homem.
Ele parece morto.
Uma delas diz que ele tem pulso.

Passa uma estação, passa outra, e mais outra.
Aquelas boas pessoas permanecem ali em pé ao lado do homem caído.
Tão assustadas quanto as outras estátuas
Mas procuram levantar o homem, procuram ajuda.

Parada da rua 57 está chegando.
O metrô vai devagar.
A ajuda foi acionada.
Um funcionário do trem entra no vagão.

Todas as estátuas se remexem no banco, de alívio.
O homem vai ser ajudado.
Ainda vejo seus pés, seu dorso.
Seu rosto escondido de frente para o chão.

Chega minha parada.
A estátua aqui se despetrifica e vai embora.
Sai olhando para trás. Desesperada. Chocada e triste.
Covarde. E sem saber o que aconteceu.


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